A dificuldade em conseguir a aprovação de vistos está a dificultar a vinda de alunos estrangeiros para o Instituto politécnico de Bragança. Apesar do problema não ser novo, este ano foi agravado em particular em relação aos alunos de Cabo Verde que se candidataram.
O presidente do IPB Sobrinho Teixeira lamenta esta recusa de vistos e apela a que as autoridades nacionais desencravem esta situação.
“Estão a atrasar e está a haver uma recusa de vistos que vai muito para além do normal, nomeadamente em relação a Cabo Verde. Eu acho que isso tem que ser visto ao mais alto nível porque não é normal o que está a acontecer. Certamente está a ser feito um crivo demasiado burocrático, um crivo demasiado administrativo que nem sequer é coincidente como eu disse com o que aconteceu no ano passado. Porque o ano passado nós tivemos mais de 200 alunos de Cabo verde, o rendimento das famílias Cabo-Verdianas não diminuiu de um ano para o outro. Alguma coisa está mal na análise que está a ser feita e eu acho que isso tem que ser colocado porque não é do interesse do IPB, é do interesse Nacional. Nós podemos de facto receber entre nos esses jovens que querem vir para aqui. Muitos ficarão cá e é do interesse da Nação Cabo-Verdiana qualificar esses jovens.”
Declarações de Sobrinho Teixeira ontem na cerimónia de boas-vindas dos novos alunos do IPB.
O instituto recebeu cerca de 1000 candidaturas de alunos estrangeiros. No que diz respeito a Cabo Verde o ano passado nesta altura havia já cerca de 200 vistos aprovados e este ano até ao momento há só 30 aprovados.
Este entrave pode impedir o instituto de atingir a barreira do 8 mil alunos, um número que a direcção do instituto esperava alcançar este ano depois de ter crescido nas duas primeiras fases do concurso nacional de acesso.
“Nós estaríamos à espera de mais de 400 alunos estrangeiros, estamos até ao final do ano a ver o que é que o processo dá, a atribuição de vistos está muito atrasada . Digamos que se tudo correr normalmente ficaríamos muito perto da barreira psicológica dos 8000 alunos e eu acho que isso era um marco que seria uma grande satisfação para todos. Satisfação pela capacidade de uma instituição estando tão localizada, tão longe da capital, de facto conseguir dar esta ideia de que aqui se pode fazer tão bem, ou melhor, do que noutros centros; se tem uma capacidade de captação e se tem sobretudo também uma capacidade de qualificação e de sedimentar aqui massa crítica para a região e para o país.”
A recusa de vistos está relacionada com a falta de rendimentos das famílias dos alunos estrangeiros candidatos, no entanto, Sobrinho Teixeira afirma que a decisão não tem em conta as diferenças de custo de vida nas várias zonas do país.
“O argumento é sobretudo condições económicas. Foi determinado que os jovens têm que ter cerca de 550€ livres para além das necessidades do agregado familiar para poderem vir para Portugal. Eu tive ocasião já de escrever a diversos Ministérios, que 550€ por mês para um jovem em Bragança é dinheiro a mais. O país é diferente e eu não percebo porque é que Portugal teima em igualizar aquilo que não é igual. 550€ poderá estar adequado para metrópoles como Porto ou Lisboa mas está perfeitamente desadequado face àquilo que é o posto de vida, para a realidade de Bragança.”
Marly Monteiro veio precisamente de Cabo Verde mas tem visto desde o ano passado porque já estudou no ano lectivo anterior no país, mas reconhece que actualmente é complicado conseguir obter visto para estudar em Portugal.
“Aqui em Bragança é o primeiro ano mas já estudei um ano no Algarve. Sim, já tinha vindo cá. Sim, está complicado para os Cabo-Verdianos. O ano passado também esteve, mas tive sorte e encontrei visto. No caso eu tenho uma prima que chegou mesmo agora e ela está desde o mês de Agosto à espera de visto e só agora é que obteve. Tem outras amigas que não o obtiveram.”
O Politécnico de Bragança tem sido nos últimos anos a instituição de ensino portuguesa que mais alunos estrangeiros recebeu.
No último ano lectivo, eram cerca de 1600 os alunos de 64 nacionalidades distintas na instituição. Este ano eram esperados mais 400, mas a dificuldade em obter vistos poderá impedir que esse objectivo seja alcançado.
INFORMAÇÃO CIR (Rádio Brigantia)