Portugueses e Espanhóis contestam exploração de urânio junto à fronteira

Portugueses e Espanhóis contestam exploração de urânio junto à fronteira

Mais de 200 portugueses e espanhóis juntaram-se, sábado, na Barragem de Saucelle, em Freixo de Espada-à-Cinta para, com um cordão humano, alertar para os problemas que pode trazer a exploração na mina de urânio a céu aberto em Retortillo, na província de Salamanca. Nuno Sequeira, dirigente da Quercus, uma das três entidades que levou a cabo a acção, afirma que nenhum dos dois países têm nada a ganhar com o projecto.

“Os organizadores da manifestação, são eles a Quercus, a AZU e a plataforma Stop Urânio, julgam que foi uma boa jornada e, neste momento, já estão aqui reunidos alguns consensos para que possamos dizer que Portugal e Espanha estão unidos na contestação a este projeto. É preciso que o Governo Espanhol, no mais curto espaço de tempo, venha a público dizer que não vai autorizar o avanço destes projetos e que vai cancelar qualquer tipo de autorização que ainda esteja em vigor, pois os impactos ambientais, sociais e económicos deste tipo de projetos seriam altamente nefastos e não teriam nada a dar para o futuro da região.”

Nuno Sequeira confirma que este projecto é, neste momento, o mais preocupante pois põe em causa a região transfronteiriça e poderá ter consequências na zona do Douro, pois se houver contaminação das águas do rio Yeltes, que desemboca no rio Douro, os materiais radioactivos chegarão à zona de produção do vinho do Porto.

“É certamente o projeto que mais nos preocupa neste momento. Os promotores já levaram a cabo no terreno algumas alterações, nomeadamente em termos de abate de azinheiras com cerca de 2000, construção de uma barragem e arruamento. Existem também  estaleiros e maquinaria já instalados.

O promotor pretende avançar rapidamente, e é preciso que os governo português e espanhol escutem as preocupações dos dois países, percebam que todos os sinais vão no sentido que os cidadãos não querem que os projetos avancem e percebam também que o futuro de toda esta região transfronteiriça pode estar em risco.”

Quanto ao Governo de Espanha, defende-se que faça uma avaliação de impacto ambiental transfronteiriça, que nunca foi feita e que mostraria que se deverá desistir do projecto, apontou Nuno Sequeira. Já quanto ao Governo português, o dirigente da Quercus afirma que há uma posição que não é nem tem sido suficiente.

“O Governo português tem tido uma posição que, no nosso entender, não tem sido suficientemente firme.

Achamos que era necessário que o governo português exercesse mais pressão junto de Espanha e, sobretudo, dar bem conta que, mais uma vez, não existiu qualquer tipo de avaliação de impacte ambiental transfronteiriça, o que seria motivo suficiente para os projetos serem imediatamente suspensos.”

A mina de urânio de Retortillo está a cerca de 40 quilómetros da fronteira portuguesa. Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, o projecto desta exploração mineira é “susceptível de ter efeitos ambientais significativos em Portugal”, pela proximidade com a fronteira, e tendo em “atenção a direcção dos ventos” de Este e Nordeste.

INFORMAÇÃO E FOTO CIR (Rádio Brigantia)

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