“Património material e imaterial das escolas do concelho de Bragança” – Tese de Mestrado defendida no Campus Académico do Nordeste

 

“Património material e imaterial das escolas do concelho de Bragança”.

Este foi o tema que deu nome à tese de mestrado de Ana Maria Rodrigues que defendeu no Instituto Piaget de Macedo de Cavaleiros.

A educadora escolheu esta tese de mestrado devido a uma curiosidade antiga em saber mais sobre as escolas e o método de ensino de antigamente.

A tese centrou-se no material encontrado nas escolas e nas memórias de 18 idosos da Santa Casa da Misericórdia de Bragança.

A docente do 1º ciclo, Ana Rodrigues, afirma que verificou uma grande ambivalência entre o ensino há 40 os dias de hoje e a principal diferença está na abordagem ao professor.

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“Decidi fazer esta tese porque nasci e fui criada numa aldeia do concelho de Bragança, por ser professora do 1º ciclo e por ter há imenso tempo curiosidade em fazer um levantamento das escolhas do concelho a nível material e do seu património imaterial. Há segunda tentativa surgiu o titulo, era uma coisa que eu queria desenvolver há muito tempo por isso foi muito fácil para nós encontrarmos o titulo da tese. O meu estudo teve duas vertentes: o património material, onde eu fui fotografar todas as escolas do concelho, fiz uma pesquisa do património material, desde os materiais escolares, o mobiliário, a decoração das salas de aula e fiz também a vertente do património material quando fui fazer as memórias dos idosos. As diferenças mais salientes que encontrei foram o rigor da disciplina e a obediência dentro da sala de aula onde o professor era a autoridade incontestável. Em relação à atualidade nós vemos mais casos de indisciplina, o professor é posto em questão.”

As escolas antigamente eram muito frias, um espaço rigoroso e rígido mas ao mesmo tempo era um lugar onde os idosos gostavam de estar.

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“Cheguei à conclusão, que a escola era um espaço austero, frio, rígido na disciplina, com professores muito rigorosos mas ao mesmo tempo surge um espaço onde os idosos que entrevistei gostavam de estar, onde havia um ambiente positivo, de brincadeira, o local onde eles gostavam de estar. A escola surge associada a uma ambivalência o que me deixou um bocado surpreendida, julguei que os idosos não iam ter lembranças da escola, não iam ter gostado da época em que eram crianças porque foi na época em que passou para o Estado Novo. Entrevistei idosos que frequentaram a escola entre 1919 até 1954, foi mesmo no início do Estado Novo, aquele regime mesmo Salazarista.”

A professora conseguiu perceber também que no tempo de Salazar havia apenas um livro escrito pelo Estado enquanto nos dias de hoje são os professores que escolhem os manuais.

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“No tempo Salazarista, no tempo pós guerra e no início do ano 1974 o material era austero, não despertava a curiosidade nos alunos, a maior parte dos materiais era feito pelos próprios alunos, atualmente encontramos nas nossas escolas os computadores, os quadros interativos, os professores tem acesso a livros didáticos, digitais. O livro da época em que os nossos idosos andavam na escola era único, ou seja, passava de irmãos para irmãos.

Atualmente temos possibilidade de escolher os nossos livros, as editoras apresentam-se na escola, os professores reúnem e é escolhido o manual de varias amostras que as editoras apresentam, o que não se via há 40/50 anos atrás que era o livro editado pelo governo. Os textos falavam apenas dos textos que o governo queria, a tal ideologia do Deus, o trabalho, o amor ao trabalho, o amor à pátria, havia inclusive no livro do 3º ano um texto onde surgia a imagem de Salazar, era um texto dedicado ao pai e ao trabalho, concretamente à família. Era a ideologia rígida do próprio sistema.”

Ana Maria Rodrigues refere que o que mais gostou de todo o percurso na elaboração da sua tese foi a nostalgia, a alegria e a maneira como os idosos falavam da época em que eram estudantes.

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“Gostei muito de falar com os idosos, em primeiro lugar porque todos eles estavam lúcidos, tinham muitas memórias dessa época da sua infância, mostraram-se muito prestáveis, felizes por estarem a conversar comigo. Entrevistei-os sempre em ambientes isolados, calmos, acolhedores, não os apressava, deixava-os conversar e eles gostaram muito de me dar as entrevistas. Uma das coisas que me marcou mais foi o facto de eles no final quererem sempre dizer alguns textos que ainda se lembravam. Uma das senhoras cantou-me uma canção que na altura do recreio cantavam à professora, enquanto a professora descansava as crianças na rua cantavam uma canção ao professor, ela cantou-me essa canção.”

“Património material e imaterial das escolas do concelho de Bragança”, uma tese de mestrado defendida no Campus Académico do Nordeste.

 

Escrito por Onda Livre