A rapper Capicua edita, na segunda-feira, o álbum «Sereia Louca», no qual explora «um rap mais emocional», e revela «uma agenda política muito própria», ao cantar rimas sobre a mulher, a infância e a morte.
O álbum «Sereia Louca» é composto por duas partes: uma de rimas e beats, em colaboração com vários músicos e produtores, e outra acústica, recuperando temas de registos anteriores.
No novo álbum, sucessor do disco de «Capicua» (2012) e da mixtape «Capicua Goes West» (2013), a rapper aborda «o universo feminino», as mulheres e a água, com «uma dimensão um bocadinho emocional, um bocadinho sombria, porque fala dessa angústia de querermos ser o que desejamos e não o que fomos talhados para ser».
O disco, gravado pela primeira vez num estúdio profissional – «todos os erros estão à vista, todas as emoções e hesitações» -, conta com beats de DJ Ride, Conductor, Xeg ou Stereossauro, do guitarrista Pedro Geraldes (Linda Martini), da fadista Gisela João e da cantora Aline Frazão, entre outros.
Capicua, nome que Ana Fernandes adotou enquanto MC, é uma das poucas mulheres a sobressair no rap português, evidenciando-se sobretudo pela riqueza temática e lírica das letras que assina.
«O que eu gosto é de escrever e não estou a pensar se as pessoas vão gostar (…) Aquilo que sou acaba por transparecer ali. Faço com os meus recursos, com as minhas palavras. Se isso resulta, se as pessoas vão gostar, só penso de véspera», afirmou.
Sobre «Sereia Louca», Capicua faz questão de esclarecer que tem a sua «agenda política própria, se calhar não tanto sobre a crise»: «As questões de género, as tais questões pós-coloniais que eu acho que, enquanto país, falamos pouco. Há um certo tabu. Algumas questões ecológicas, a questão da privatização da água».
«Todo o meu trabalho acaba por ter essas agendas políticas minhas, não no sentido panfletário, mas o que me preocupa e que quero que as pessoas pensem comigo», explicou.
Há ainda o lado biográfico, em que se expõe – porque a escrita é uma forma de digerir as emoções, diz -, refletido nos temas «Vayorken» ou «Peter Pan», sobre memória, a infância e essa «coisa de envelhecer».
«Este disco é um bocado a catarse dessa situação [ter feito trinta anos]. Eu sou muito Peter Pan e tenho uma coisa que me assusta: o tempo passar muito rápido, tenho muita coisa para fazer, tenho muitas dúvidas ainda», admitiu.
Capicua apresentará «Sereia Louca» a 29 de março no Plano B, no Porto, e a 5 de abril no Musicbox, em Lisboa.
«Um dos objetivos que tinha para o meu primeiro disco era chegar a um público da minha idade e eu acho que consegui (…). Gostava de me identificar com as pessoas que me ouvem, tenham elas 15 ou 65 [anos], mas gostava que houvesse mais variedade de público. Para não me sentir tão velha, se calhar», disse, a rir.