Apesar de a EDP ter desmentido a informação, e de alguma imprensa nacional ter avançado que os enchimentos na Barragem de Foz Tua começaram ontem (segunda-feirs), também a Plataforma Salvar o Tua se junta à voz do Movimento Cívico pela Linha do Tua, e garante ter tomado conhecimento, através de habitantes e in loco, que a comporta do sistema de derivação foi fechada há uma semana.
Ficam, no entanto, algumas dúvidas, expressas pelo presidente da Plataforma, João Joanaz de Melo.
“A primeira dúvida é o porquê de o enchimento estar a ser feito neste momento, tendo em conta que, na melhor das hipóteses, o empreendimento estaria a funcionar daqui a um ano e meio, isto porque a obra ainda está relativamente atrasada. Não se percebe a necessidade e a urgência em começar a encher a albufeira. Era importante ter a justificação.
Uma outra questão é se houve as devidas autorizações para começar a fazer o enchimento, porque a barragem não está acabada, e por isso, órgãos importantes de segurança também não estão acabados. É importante perceber se este enchimento, ainda que parcial e contido, foi autorizado.”
João Joanaz de Melo considera que a EDP fez estes enchimentos “às escondidas”.
“Basta ir lá, e olhar para o que se está a passar.
O nível da água subiu uns 20 ou 30 metros dentro da albufeira, o suficiente para haver um espelho d’água já com alguns quilómetros de extensão. É um enchimento “modesto”, estamos longe do total, mas, de qualquer forma, houve o encerrar da comporta do sistema de derivação e já está a haver inundação do Vale. Aliás, foi anunciada num blogue, patrocinado pelo EDP, com grande pompa e circunstância, como sendo “um momento histórico”. Só se for histórico pela infâmia. Tudo nesta barragem é uma infâmia, mas, este enchimento às escondidas é algo de verdadeiramente inaceitável.”
Se a Comissão de Acompanhamento Ambiental e a Agência Portuguesa do Ambiente não responderam às questões colocadas pela Plataforma Salvar o Tua, a UNESCO tomou uma posição pública, que serve também de resposta às 24 mil cartas que chegaram à instituição no âmbito da campanha O Último Ano do Tua.
“Ao fim de vários anos de insistência, a UNESCO dignou-se a mandar-nos uma carta, com aquilo a que podemos chamar, em bom português, de desculpas esfarrapadas.
Basicamente, a UNESCO diz que nada tem a ver com o assunto, que terá a ver com o Estado português. Recomendavam-nos que falássemos com a Comissão Nacional da UNESCO. Pedimos a reunião, que foi aceite, e que se irá realizar nos próximos dias.”
Num comunicado enviado ontem à imprensa, a Plataforma Salvar o Tua considera que estes alegados enchimentos têm dois propósitos: “ensaiar alguns órgãos da barragem, mas, acima de tudo, tornar o aproveitamento hidroelétrico de Foz Tua um facto consumado, dada a pressão crescente da opinião pública contra a sentença de morte do Vale do Tua.”
Ainda nenhuma das entidades mencionadas comentou o assunto.
Foto: Plataforma Salvar o Tua
Escrito por ONDA LIVRE