Só no nordeste transmontano existem 13300 utentes com diabetes, o que representa 10,15% da população da região.
Os dados são avançados por Raul Sousa, médico e coordenador da Unidade Coordenadora Funcional da Diabetes da ULSNE:
“A média nacional é de 13,3%, mas desse valor, apenas 7,5% correspondem a casos conhecidos, os restantes 5,8% dizem respeito àqueles que ainda não se conhecem.
Portanto, se nós no distrito de Bragança já conhecemos uma prevalência de casos diagnosticados de 10,15%, significa que ultrapassa a média nacional em 2,6%.
Destes, 51% são do sexo masculino, 49% feminino, 49% correspondem a diabetes do tipo 2 e 11% do tipo 1. Verificamos ainda que esta doença atinge mais uma faixa etária entre os 60 e os 70 anos de vida.”
Declarações à margem das III Jornadas da Diabetes do Nordeste Transmontano que aconteceram durante dois dias em Macedo de Cavaleiros, juntando mais de 200 participantes.
Um número superior ao das edições anteriores, o que, na opinião do coordenador, revela uma maior preocupação dos profissionais de saúde para com as formas de tratamento desta doença:
“O facto de haverem mais profissionais de saúde a inscrever-se, provavelmente significa que as pessoas estão cada vez mais interessadas em saber lidar melhor com os utentes , como lhes dar melhor qualidade e quantidade de vida perante uma doença crónica que exige trabalho tanto por parte dos doentes como dos profissionais.”
Um dos temas abordadas foi a sexualidade na diabetes que ainda é vista como um tabu nesta região do país e, por isso, há necessidade de preparar melhor os profissionais de saúde para lidarem com a problemática, acrescenta Raul Sousa :
“Estamos numa região com uma cultura e costumes muito próprios em que a sexualidade é um tema tabu, tanto entre doentes como profissionais de saúde.
Toda os estudos dizem que os profissionais de saúde não estão preparados para lidar com esta problemática.
Nós temos, de facto, competências técnicas, mas depois falta-nos desenvolver as capacidades relacionais que nos permitem perceber como um casal funciona porque isso faz parte da sua vida íntima.
O aspeto sexual é central na saúde de qualquer ser humano.”
E os problemas relacionados com a sexualidade são, por vezes, bons indicadores para identificar a presença de patologias, como é o caso da diabetes, em que de 11% a 20% dos sintomas se começam a manifestar por essa via.
Quem o diz é Carla Veiga Rodrigues, especialista em Medicina Geral e Familiar:
“Este assunto é particularmente importante de duas formas. Primeiro, porque ajuda a diagnosticar a diabetes pois existem entre 11% a 20% de doentes nos quais o primeiro sintoma é a disfunção erétil. Por outro lado, ajuda a acompanhar estes doentes pois esta disfunção, além de ser um marcador de mau prognóstico, é um marcador muito mais interessante do que outros que temos nas consultas.
A disfunção erétil quando aparece, dá-nos uma margem de 3 a 5 anos até ao aparecimento de uma patologia de foro cardiovascular major, como um enfarte, AVC, entre outras muito mais graves e potencialmente letais.”
Além deste tema, foram ainda abordados a Diabetes Tipo 1, a Diabetes e Risco Cardiovasculares, Retinopatia Diabética e a Atividade Física na Diabetes.
As III Jornadas da Diabetes do Nordeste Transmontano foram organizadas pela Unidade Coordenadora Funcional da Diabetes da ULSNE, com apoio da Associação de Diabéticos do Distrito de Bragança, e decorreram durante quinta e sexta-feira no Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros.
Escrito por ONDA LIVRE