“Os casos de bullying nas crianças estão a aumentar em todo o país”. Esta é opinião de Alfredo Leite, na sua mais recente passagem por Macedo de Cavaleiros, onde ministrou 12 sessões para crianças de várias turmas do 5º ao 9º anos de escolaridade, aos pais e encarregados de educação, professores e assistentes operacionais.
Nas suas viagens pelo país, o especialista em psicologia educacional, analisa e acredita que este problema está aumentar e que não é através da repressão, que será o método para solucionar este problema na sociedade:
“Esta tendência vai aumentar. E não é com a repressão que vai lá, tem que haver alguma disciplina, estrutura, horários e método. Está se assistir a uma falta de apoio dos pais, de presença familiar, e perspetivas de futuro da parte das crianças e ainda polarização. Benfica e Sporting, as pessoas é que estão mal, eu é que estou bem. Acredito que vai aumentar. Agora, as pessoas têm que pegar nisto, que é muito chato, para quem bateu, para quem é agredido ainda é pior, e têm que tentar tirar o melhor disto, porque senão as coisas vão continuar a acontecer.”
A última sessão que deu foi ontem, no auditório do Agrupamento de Escolas de Macedo de Cavaleiros, com alunos do quinto ano.
Alfredo Leite, destaca as diferenças entre as várias sessões direcionadas para as idades distintas:
“Nós, quando fazemos estas sessões para o 5º, 6º, 7º, 8º e 9º, são diferentes em termos de formato. Por exemplo, na sessão do 5º, curiosamente, ou talvez não, ela é até mais informativa. Nós falamos do conceito do bullying. Mas já quando falamos com o 9º ano, falamos mais sobre a vida, sobre os objetivos de vida, até sobre a questão do trabalho, a questão do dinheiro, porque eles são muito sensíveis a isso. E é no 9º ano, que os alunos constroem as bases da sua felicidade,o seu bem-estar e dos objetivos. E foram essas as diferenças, que existem em relação à idade. Mas do nosso lado, tentamos também adaptar as sessões para os níveis de ensino. Elas têm um guião e estão todas pensadas. Mas é com a colaboração deles e participação que depois vai levando a sessão num determinado caminho. Porque eles têm sempre a hipótese de participar. Que é uma das grandes diferenças do nosso projeto”.
Alfredo Leite é licenciado em Psicologia pelo ISPA (Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida), professor universitário, formador há mais de 20 anos e apaixonado por comunicação. Também defende que é preciso mais empenho dos pais, no acompanhamento dos filhos, com uma observação muito próxima:
“Porque pedimos aos pais, cada vez mais empenho em estar com os filhos, em ter disponibilidade para eles, porque senão a escola sozinha, vai ter muita dificuldade.
Então, de norte a sul, é isso que eu ouço. Eu ouço os pais, os professores e o balanço que eu faço é a escola sozinha vai ter muita dificuldade. Nós sabemos que há pais que não podem mesmo. Nós sabemos, inclusivamente, que há miúdos que não têm pais. Mas a outra maioria de pais que sabe que até andam na escola, têm que ponderar valores, têm que ponderar a sua ética parental e têm que ajudar a escola. E essa é a problemática que eu vou vendo de norte a sul do país. Portanto, e aqui também. Aqui, a escola sozinha não vai conseguir, porque o problema é muito complexo.
E lá está, o bullying é, se calhar, uma ponta de um iceberg. Mas nós temos por trás, carência afetiva, desregulação emocional e cansaço. Um miúdo cansado, que dormiu mal, que comeu mal, é mais irritável. Então, isto é uma radiografia do país inteiro. E é preocupante. Porque depois fica tudo mais difícil. Mais difícil uma aula, mais difícil uma sessão. Fica mais difícil chegar às pessoas. E é o que eu sinto no país inteiro”.
Alguns dos alunos contam o que aprenderam nesta sessão:
“Aprendi que não podemos fazer bullying com outras pessoas. E que se fizermos, quando formos maiores podemos ser presos”, contou a Ana Filipa Silva de 10 anos, que anda no 5º ano.
“Aprendi sobre o bullying. Aprendi que não posso tratá-los mal, não lhe bater e não lhe chamar nomes”, disse Lara Martins, também de 10 anos, que também anda no 5º ano.
A professora de História, Margarida Vilar há 41 anos, destaca que esta problemática, tão mediatizada não é assim tão recorrente como se pensa:
“Não é assim tão recorrente como às vezes se possa crer. Às vezes é mais individualizada, do que em grupo e organizada. Mas acontece um caso ou outro. Ultrapassamos estes problemas com a intervenção dos professores e com a discussão entre os alunos”.
Recorde-se que ainda recentemente, em Macedo de Cavaleiros houve uma agressão a uma menina de 14 anos. Foi agredida no Parque da Cidade, por um grupo de quatro jovens, enquanto outros cinco filmaram a agressão.
Escrito por Rádio ONDA LIVRE



