Vitorino passou no sábado por Macedo de Cavaleiros, e o Centro Cultural da cidade foi pequeno para o receber.
Um alentejano em terras de Trás-os-Montes, para mais um concerto dos que tem vindo a promover em pequenos e médios auditórios por todo o país.
O cantor, que há pouco tempo passou também por Vila Flor, explica que cada espectáculo, é, no entanto, numa peça única.
“Vou-me adaptando aos públicos. Tenho que ter essa capacidade, se não fica um concerto muito normal, muito frio.
Eu conheço este país todo de lés a lés. Comecei depois do 25 de Abril a cantar por toda a parte. Acho que já passei por aqui. Já me disseram que sim, no tempo quente, ainda você não tinha nascido.
E vou conhecendo a evolução. Sou muito atento, e cada concerto é uma peça única. Não cantei em Vila Flor, faz hoje oito dias, como cantei aqui hoje.
Tinha muito mais frio em Vila Flor, bebi muito mais vinho, disse coisas incríveis, mas o publico perdoou-me, hoje estive mais calculoso.”
O Cante Alentejano esteve no tema de conversa. Há poucos meses, o Cante foi elevado a Património Imaterial da Humanidade. O cantor, natural do Redondo, considera que ainda assim a cultura tradicional tem dificuldades em afirmar-se.
Faz ainda questão de explicar que o Cante é para ser cantado em grupo.
“Eu posso fazer isso, mas eu tenho que ter pelo menos 24 cantores alentejanos atrás de mim.
Porque é um canto coral, à capela, com uma capacidade de intervenção fortíssima sobre todos os aspetos. É uma forma de cantar que comove muito, porque é muito despojado, não tem instrumentos, só vive das vozes, do texto e da melodia que se canta e da intenção de cantar.
Aliás, eu devia ter proposto já a esta Câmara que venha aqui um grupo de cantadores, cantar nas ruas que é uma coisa absolutamente esmagadora. Como são, por exemplo, os Pauliteiros de Miranda, os Caretos, que são algo estranho e lindíssimo, e são a nossa identidade.
Felizmente que o canto alentejano foi classificado (como Património Imaterial da Humanidade) porque merece, mas não espero que haja muito interesse nisso. Você fez uma pergunta que quase ninguém faz, porque o canto alentejano não tem estrelas. O fado tem, está personificado numa fadista bonita, com tatuagens e com os tiques das stars (estrelas, em inglês). O Cante alentejano é uma coisa absolutamente do fundo, dos tempos.”
Vitorino Salomé, ou somente Vitorino, um alentejano em terras transmontanas, num concerto, em Macedo de Cavaleiros.
Escrito por ONDA LIVRE