Nos tempos que vivemos, mais do que nunca, os utentes das estruturas residenciais para idosos passaram a ser uma família. Impedidos de ver os familiares presencialmente, o uso das tecnologias terá sido a salvação. Fátima Pereira é psicóloga nos lares da Santa Casa da Misericórdia de Mirandela. Diariamente assiste aos efeitos negativos que a pandemia tem nos mais velhos:
“Em termos da saúde mental, o que sentimos principalmente é a ansiedade, algum humor depressivo, algumas falhas de memória e desorientação.
Foi necessário muito trabalho em termos de grupo e em termos individual. A adaptação à situação, a adaptação de eles próprios à máscara e nem sempre foi fácil.”
Perceberem o que estava a acontecer no mundo e que havia medidas a adoptar não foi fácil para os idosos. Fátima Pereira não tem dúvidas de que a pandemia veio acelerar o envelhecimento destes utentes:
“O facto de eles estarem mais parados, mentalmente menos activos, terem uma menor variedade de estilos à sua volta, verificou-se que a saúde mental acaba por interferir na saúde física.”
Foi nesta altura que os lares foram obrigados a reinventarem-se. Procuraram estratégias para os manter activos, não só a nível físico, mas também mental:
“O uso de vídeo projector, transmissão de imagens, conversa em pequenos grupos e actividades de estimulação cognitiva e de reabilitação. Acho que se reinventaram para não deixar os idosos sofrer em demasia.”
Depois de todo o impacto que a pandemia está a ter na saúde mental das pessoas, sobrepõe-se a pergunta: Até que ponto compensa privar de afectos aqueles a quem lhes resta poucos anos de vida?
“Compensa sempre. Se nós fizermos trabalho de retaguarda a nível da saúde mental, compensa sempre. Dar mais anos, dar mais qualidade de vida. Ainda que possamos sentir que nesta situação a qualidade de vida de uma pessoa mais velha que está num lar não é o ideal, a verdade é que compensa porque a estamos a proteger.”
Do outro lado estão os funcionários dos lares, que passaram a ter duas famílias e tiveram que aprender a lidar com a exaustão física e psicológica.
Fátima Pereira presta ainda assistência na linha de apoio psicológico do SNS24. Disse já ter ajudado em “crises de ansiedade”, “crises de pânico”, situações de “alguma descompensação em termos de saúde mental” e “luto”.
INFORMAÇÃO CIR (Rádio Brigantia)

