Granizo e a chuva deixaram os agricultores do concelho de Mirandela com pouco ou nada

O olival foi a cultura mais afetada pelo mau tempo do início de Setembro. Segundo a Associação dos Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (AOTAD), as quebras rondarão os 40%. Susana Madureira

Laurina Martins não queria acreditar no que estava a ver. Não se lembra de granizo tão grande como aquele que caiu há uma semana. A agricultora diz ter ficado com tudo destruído e a tristeza é bem percetível na voz.

“Vou fazer 64 anos, nunca na minha vida vi tanta pedra. Foi a horta, foram tomates, foi couve, foram as uvas, foram meloas, foram melancias, tenho tudo destruído. Azeite não tenho, ficou tudo destruído. Fui ver e chorei, chorei, a azeitona estava toda no chão. De um dia para o outro fiquei sem nada, é triste, é lamentável.”

Para Manuel Alves a situação não foi tão grave, mas o granizo só deixou que um terço da azeitona ficasse nas oliveiras.

“Em média produzo 15 a 16 toneladas, o ano passado, por incrível que pareça, nem um quilo de azeitona consegui ter. Este ano, perspetivava-se melhor, nada de extraordinário, porque há olivais que não tinham nada e naqueles em que havia alguma azeitona com este temporal praticamente 50% está no chão. Por muito otimista que eu seja, devo colher cinco toneladas, não mais que isso.”

A Associação dos Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro adiantou que grande parte dos olivais das aldeias de Vale de Madeiro, Freixedinha e Carvalhais foram afetados. Os prejuízos rondarão os 40%.

“Mas pode ocorrer que a próxima campanha do próximo ano seja prejudicada por estas trovoadas, porque se veem muitos ramos de oliveira no chão e pode haver situações em que o granizo deteriorou os ramos que ficaram e pode dar origem ao aparecimento de doenças. Para além de ser um ano médio, com esta chuva será, se calhar, um ano pior que o ano passado.”

O presidente da Associação dos Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro, Francisco Pavão, disse que, no caso da vinha, houve casos com perdas totais da uva. Nos casos em que isso não se registou foi necessário apressar a vindima.

“Alguns produtores já tinham vindimado o branco, estavam a iniciar a vindima da uva tinta e o granizo veio provocar graves danos na vinha e motivou, por forma a minimizar os problemas, que se procedesse de imediato à vindima. Os prejuízos foram bastante elevados. Do ponto de vista de logística de adega, de preparação de pessoal, obrigou a um esforço muito grande, para que houvesse pessoal disponível, o que na região é uma grande dificuldade e, portanto, vamos ter mais custos.”

Francisco Pavão defende que mais do que ajudas era necessário que criar um sistema de seguros agrícolas atrativo.

Este ano previa-se que o ano vinícola fosse bom, com um aumento de produção entre os 15 a 20%. Agora, estima-se que haja um aumento mas que seja bastante menor.

 

Informação CIR (Rádio Brigantia)