Criadores de gado não conseguem escoar a lã

Os criadores de gado estão a passar por um grave problema de armazenamento de lã porque não conseguem escoar o produto.

Este é um problema que tem assolado os criadores da região, um pouco por todo o lado. A preocupação foi manifestada por Basílio Martins, presidente da direção da ANCORCB – Associação Nacional de Criadores de Ovinos de Raça Churra Badana, estando já a tosquia deste ano já terminada, os armazéns ainda ficaram mais cheios com o stock de lã, acumulando o produto de diversos anos:

“Temos aí um problema enorme, em que os criadores têm ficado com a lã sem a conseguir escoar e está a começar a ser um problema porque se formos visitar os criadores na região, eles não têm onde colocar a lã. 

E não podem fazer nada com a lã. Portanto têm as corriças e os armazéns cheios de lã sem saber o que lhe fazer. 

E a direção desta associação está a tentar resolver esta situação.”

O que acontece é que este produto deixou de ter valor no mercado, estando a ser substituído por materiais sintéticos, como lamenta o representante desta raça de ovinos, que se encontra em vias de extinção:

“Neste momento não tem valor. As fibras sintéticas vieram substituir a lã. E neste momento, não há uma fileira que efetue o escoamento da lã. 

Antigamente, tínhamos tudo, os lavadouros, as fiações… Hoje não temos nada disso. Temos que começar do zero, para começar a colocar a fileira da lã a funcionar. E portanto, a lã deixou de ter valor.”

A ANCORCB representa 22 criadores de gado de Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Valpaços, Mogadouro, Alfândega da Fé e ainda com cerca de 300 cabeças no Alentejo.

No concelho de Macedo de Cavaleiros tem 1400 exemplares e ainda 450 em Valpaços e 150 em Mirandela. Num total de efetivo de 2340 fêmeas e 78 machos.

Esta raça em vias de extinção é distinta por ser uma ovelha de pequena dimensão, com uma cor de lã, mais escura, rústica e grossa que antigamente se usava sobretudo para fazer tapetes. As ovelhas badanas são de uma elevada capacidade maternal, com um perfilhamento dos filhos também elevado, que se adapta bastante bem à orografia da região e mesmo nos anos mais secos, conseguem sobreviver, mesmo existindo uma fraca disponibilidade alimentícia, com restolho, fiolho, entre outros.

A mesma preocupação é partilhada pelo produtor, Arménio Vaz, com cerca de 400 cabeças de gado, de Avidagos, no concelho de Mirandela, que conta que não tem onde colocar a lã e não sabe o que fazer:

“Esse era um artigo que antigamente era muito valorizado e que antigamente não tem havido escoamento do produto. 

Posso lhe dizer que tenho ali bastante lã armazenada, porque não há quem a recolha. Antigamente, era um produto bastante valorizado, com muitos interessados em adquirir esse produto. 

Nos últimos anos, ninguém procura lã.”

A juntar-se a este problema também se sente a falta de mão de obra no setor, em que já ninguém quer ser pastor, como acrescenta:

“Os nossos criadores aqui do concelho, e a nível nacional, estão cada vez mais envelhecidos e a juventude não quer abraçar esta atividade porque é muito trabalhosa. Isto requer dias santos, feriados, domingos. Todos os dias se tem de tratar dos animais, como por exemplo, a ordenha. 

A mocidade não vê esta atividade muito atrativa, e é como disse, quando esta geração mais antiga deixar de fazer a pastorícia não vai ser fácil.”

A lã é a proteção térmica das ovelhas, mas com o verão à porta, poderá causar perda de peso no animal, provocar doenças ou até mesmo a morte do animal.

Escrito por Rádio Onda Livre
Créditos Fotográficos: ANCORCB – Associação Nacional de Criadores de Ovinos de Raça Churra Badana