São os próprios transmontanos que muitas vezes colocam obstáculos e criam dificuldades ao desenvolvimento da região. A opinião é do presidente da Associação para a Cooperação e Desenvolvimento do Nordeste Transmontano e Alto Douro, manifestada no primeiro dia do 5º congresso de Trás-os-Montes, em Mirandela.
Alberto Carvalho Neto diz ser necessário apostar numa estratégia regional e apontar baterias para a educação dos mais jovens:
“Fazemos um esforço enorme para conseguir atingir os melhores objetivos e encravamos em vários problemas”, acrescenta Alberto Carvalho Neto que diz ser necessário apostar numa estratégia regional. “Tem muitas vezes a ver com falta de literacia financeira, de apoio realmente local dos municípios e de uma estratégia regional. Há países da Europa Leste que já nos ultrapassaram e vão continuar a ultrapassar porque estão realmente a conseguir capacitar a sua parte da educação e nós estamos a faltar essa parte da educação e também a falta de compromisso e de respeito pela região. Nós somos uma região muito forte agrícola, mas se não fornecermos indústria para cá não vamos conseguir continuar a crescer, portanto temos que olhar para os bons exemplos que se vê no mundo”.
Para o recém-nomeado vice-presidente da CCDR-N, Paulo Ramalho, o congresso transmontano é importante porque permite reflectir em conjunto para reafirmar e renovar o diagnóstico, mas acima de tudo para construir novas soluções num mundo global em constante mudança:
“Permite refletir em conjunto para reafirmar e renovar o diagnóstico, mas acima de tudo para construir novas soluções num mundo global em constante mudança”, refere Paulo Ramalho. “Temos de ser capazes de integrar todos numa estratégia que obviamente será diferenciada em função dos territórios e das suas especificidades, mas que tem que ter obviamente uma estratégia firme e assente num conjunto de valores, mas acima de tudo integrando todos os atores do território”.
Berta Nunes fez questão de assistir ao congresso por entender que continua a ser importante manter acesa a chama da necessidade de um olhar diferente para o interior. A antiga Secretária de Estado das Comunidades, ex-deputada socialista no Parlamento e antiga autarca de Alfândega da Fé, considera que ainda existe pouca sensibilidade dos políticos para a coesão territorial e dá o exemplo das portagens do interior, recentemente abolidas:
“Vieram logo dizer que todos os contribuintes vão pagar essa falta de pagamento nas auto estradas, mas temos que dizer que todos os contribuintes, estão a pagar um aluno que tem que se deslocar para o Porto e para Lisboa em que o Estado está a gastar muito mais dinheiro porque custa mais um aluno que se desloca e que tem direito a complementos para alojamento, etc., custa mais um aluno no Porto ou em Lisboa do que custa em Trás-os-Montes e nós todos estamos a pagar isso. É preciso olhar para o país, não a partir de Lisboa, mas tendo em conta todas as perspetivas de quem vive nas várias regiões do interior”.
Algumas opiniões avançadas no primeiro dia do congresso transmontano, em Mirandela, que teve seguimento no Peso da Régua, no sábado e em Lamego no domingo, numa iniciativa promovida pela Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Lisboa, cujas conclusões serão agora vertidas num documento a entregar aos decisores políticos, como adianta Hirondino Isaías, o presidente da associação:
“A função do congresso é primeiro realizar o evento, escolher bons oradores, bons temas, discuti-los, apresentar ideias, propostas, depois fazer esse relatório com tudo transcrito, com os pontos positivos, pontos fortes e as propostas que são apresentadas. E depois cabe ao poder político, àqueles que têm orçamento, àqueles que têm poder para mudar as coisas, de fazer alguma coisa pela região”, afirma o presidente da Casa de Trás-os-Montes de Lisboa.
Hirondino Isaías apresentou ainda uma proposta para que o congresso passe a ter uma periodicidade de cinco anos e lançou o desafio às Comunidades Intermunicipais da região para que passem a ser os organizadores do evento:
“É muito diferente ser uma entidade pública do que ser uma entidade como a nossa a organizar este tipo de eventos. Faz muito mais sentido que aqueles que estão no terreno organizem este tipo de eventos do que uma associação que está em Lisboa tente organizar alguma coisa pela região. Os sócios sempre incentivaram a realização de congressos, mas não podemos ser nós sempre preocupados com a organização deste tipo de eventos. Têm que ser as entidades locais a puxar mais pela região, a debater mais pela região e a fazer tudo pela região”, refere.
Caiu o pano sobre o V congresso transmontano que ainda não tem data marcada para o seu regresso.
INFORMAÇÃO CIR (Escrito por Rádio Terra Quente)
Fotografias: Município de Mirandela