A campanha da cereja este ano vai apresentar uma quebra originada pelas últimas condições climatéricas que se fizeram sentir ultimamente, como a forte chuva e vento.
Na maior parte dos casos a campanha já levava 15 dias, nos anos anteriores, mas na sua maioria ainda não arrancou.
Um dos produtores de cereja, com cerca de 10 hectares e também Presidente da Junta de Freguesia de Lamas, Leonardo Vila Franca, considera que poderá ser um ano desastroso, mas tudo depende do tempo daqui para a frente:
“Se calhar vai ser um ano um bocado desastroso. Nós para já, na nossa freguesia não temos prejuízo à vista. Porque ela ainda não está a querer madurar. Agora se sossegar a água, pode ser que se safe. Agora, se continuar a chover quando ela começa a madurar, é quando racha, estala, que absorve a humidade de fora. Mas para já não ficou muita. As chuvas durante a floração afetaram a cereja. No entanto, a que temos, se o tempo melhorar, aguenta-se. Agora estamos a ser dependentes do tempo”.
No concelho de Macedo de Cavaleiros, a freguesia que mais produz este fruto é Lamas, com uma produção a rondar as 400 toneladas de fruto, seguindo-se Bornes, com cerca de 250 toneladas, tendo também expressão, em Vilarinho de Agrochão, Carrapatas e Arcas.
E por isso caracteriza as queixas dos agricultores, como adianta:
“As queixas por enquanto é que ficou pouca. Entretanto, nas já houve algumas variedades, as primeiras quando veio aquele tempo bom, que até já andávamos de manga curta. Nessa altura até se safou. Depois a que floriu mais tarde, a “tardega” como nós lhe chamavamos, que foi quando choveu e a flor não saiu”.
Em Bornes, um dos produtores, com cerca de 15 hectares Luciano Silva tem recebido imensos contactos para a venda do produto, mas não consegue satisfazer os pedidos porque está rachada:
“Neste momento não pára o telefone a pedir cereja, mas eu não tenho. A que tenho está rachada e estragada. Se não tinha sido esta água desta segunda-feira, que foi a pior, porque choveu muito. E pronto, agora vamos lá ver, se não chovesse mais. Mas agora se chove mais, é pior, vamos ver.”
No ano passado, deu início à campanha de apanha a 4 de maio, mas este ano, ainda não conseguiu por causa das condições climatéricas:
“A campanha ainda não começou, está mal, este ano o tempo não nos deixa. O processo de amadurecimento do fruto tem sido lento. Está mal, porque faz frio, não aquece, não há calor e a cereja não madura. Mas além disso, a água tem rachado tudo e estragado muita, muita quantidade. Vai haver um quebra de produção, mas uma pessoa ainda nem faz a mínima ideia. Já o ano passado houve quebra, e este ano há outra vez muito grande também. Das variedades que tenho algumas não têm nada, por exemplo, a de tarde tem pouco. Eu era para começar neste fim de semana, mas a que tinha para começar rachou toda e está toda estragada. E o governo não ajuda nestes casos. A água tem sido muita e ela não aguenta e racha. Mas é um fator que se regista em todo o lado. A que estava madura foi toda à vida”.
Na região transmontana, também em Alfândega da Fé a produção foi afetada pelas chuvas e as últimas geadas de março afetaram a produção, apesar da qualidade estar garantida adiantou Gil Ginja, um dos seis diretores da Cooperativa Agrícola de Alfândega da Fé:
“A cereja premissa está top, choveu um bocado, está um bocado rachada. As próximas ainda não temos a previsão de como está a recolha. O tempo afetou o fruto, as geadas de fim de março queimaram muito a floração, agora não foi todas as cerejas, portanto todas as cerejas não sofreram disso.
Agora só ao momento da apanha que se vai observar a qualidade e a quantidade.
Não, já estamos a apanhar. Começamos geralmente entre os fins de abril, inícios de maio, mais ou menos nesta altura que se começa a apanha. Conseguimos ter cerejas, por exemplo, as premissas no início de abril, mas é muito raro, depende de muitas das condições climatéricas”.
O ano passado a campanha não foi muito boa, e teve uma quebra, entre os 20% e os 30%, com a apanha de 10 a 12 toneladas:
“O ano passado não foi uma boa campanha, por diversas razões. Uma delas é por causa do processo de IGP, em que a cooperativa está envolvida, que é o principal produtor de cereja do concelho, passamos à produção biológica, ou seja, à fruta não podem ser aplicados pesticidas, adubos, fitossanitários, não temos os mesmos tipos de frutos, que é óbvio. Ou seja aumenta-se a qualidade do produto. Para este ano, ainda não temos perspetiva. Mas para a Festa da Cereja vai haver o fruto.
No entanto, não é na Festa da Cereja que vendemos a maior parte da nossa produção”.
O concelho de Alfândega da Fé tem cerca de 12 produtores. Já no azeite, a cooperativa tem cerca de 100 associados.O preço inicial do quilo de cereja será de 10 euros, que poderá baixar.
Escrito por Rádio ONDA LIVRE
Fotografia: UTAD