Primeiro festival literário macedense homenageia escritor A. M. Pires Cabral

A. M. Pires Cabral, o escritor macedense, foi homenageado no âmbito do primeiro festival literário que se realizou em Macedo de Cavaleiros, que teve como nome “Raízes”.

O escritor macedense, nascido em Chacim, e que é considerado como um dos maiores vultos da literatura portuguesa contemporânea, um guardião das raízes e da palavra gravada na poesia e na ficção, ficou grato com mais reconhecimento:

“Uma homenagem é sempre qualquer coisa que nos enche de satisfação. Portanto, é isso que eu sinto. Sinto que as pessoas, de alguma forma, encontram em mim qualidades que devem ser homenageadas e, portanto, fazem-me uma homenagem. É evidente também que muitas vezes as homenagens são prematuras. Quer dizer que deveríamos esperar mais alguns anos até ver se efetivamente a homenagem é justificada ou não.”

Esta era uma homenagem que fazia falta e a um macedense, como destaca Benjamim Rodrigues, presidente da câmara de Macedo de Cavaleiros:

“Como nós sabemos, é dos escritores vivos mais premiados e é para nós um orgulho porque é macedense. E é um macedense que nunca negou a pátria portanto, escreve muito sobre a sua terra e tem orgulho. Portanto, para nós nunca é demais uma homenagem, esta é mais uma. Como disse muito bem, já tem uma biblioteca com o seu nome e inúmeros prémios. É uma pessoa na cultura que merece todo este reconhecimento do seu povo.”

Por ser a primeira edição, Benjamim Rodrigues, disse quer era preciso terminar com a lacuna de não haver um festival de literatura em Macedo de Cavaleiros:

“O objetivo da criação deste festival é levar a cultura aos sítios mais favorecidos, e sobretudo ao nosso concelho. Na verdade, em anos e anos a fim, tivemos alguma dificuldade em criar este tipo de festival, porque que não terá propriamente muitos aficionados. Mas tem um público específico. E houve sempre um grande esforço por parte dos nossos executivos de levar até à população alguns, podemos chamar, fenómenos culturais, como este festival literário, em que estamos a dar oportunidade ao vulgar cidadão que pode escrever e poder divulga-lo.”

O festival foi inaugurado esta sexta-feira. Após o momento oficial foi feita a explicação pública dos livros artistas da autoria de Agostinho dos Santos, o pintor e jornalista, que durante das suas viagens vai registando as suas emoções e o que lhe vai na alma, na sua primeira exposição em terras macedenses:

“Bem, os livros de artista funcionam, como eu os vejo, como uma expressão artística que funciona como uma espécie de viagem, um diário, um registo de emoções, de prazeres, de viagens, de contactos com as pessoas, de ilusões e desilusões. E é uma expressão artística, no meu caso específico, que já utilizo há muitos anos, porque como sou jornalista, muitas vezes tive que fazer deste livro uma espécie de atelier. De o pôr na mala, juntamente com aguarelas e tintas da china e deslocava-me em serviço, em serviço profissional, naturalmente que improvisava o meu atelier no quarto de um hotel. E o livro de artista é um grande companheiro de viagem, um companheiro de luta, de solidariedade, de desespero, de angústia e de prazer.”

O também diretor da Bienal Internacional de Arte de Gaia, explica o que público pode encontrar na sua exposição:

“Portanto, o que nós vemos aqui nesta exposição é um conjunto de cerca de 15 livros artistas meus, mais 10 concebidos, a quatro mãos, com artistas que eu gosto, meus amigos, com o José Rodrigues, que infelizmente já partiu, o Carlos Carreiro, o Zumiro de Carvalho, o Valter Hugi Mãe, António Pizarro, vários, a Isabel e o Rodrigo Cabral. São artistas que, de facto, vão ao meu atelie e nós a forma de nos dialogar, de tocarmos impressões é através daquilo que achamos que sabemos fazer melhor, que é o desenho ou a pintura. E, portanto, aqui são um bocadinho destes encontros e desencontros entre artistas.
Encontros de ultra-artistas.”

Agostinho dos Santos brevemente vai realizar uma exposição em Macedo de Cavaleiros.

O festival literário Raízes, foi organizado em conjunto com a Poética Edições. A livreira, Virgínia do Carmo, que pela primeira aceitou este desafio, salientou este como um momento para refletir sobre os temas como raízes, paz, que são pertinentes à humanidade:

Porque eu, de facto, fico muito feliz de ver os escritores juntos, de ver esta congregação de pessoas que se reúnem à volta dos livros, da arte, da cultura, do pensamento, porque este festival também é muito para refletirmos juntos.
Temos duas mesas redondas, um debate amanhã sobre literatura e identidade. Portanto, nós quisemos muito fazer esta união ou este encontro entre os escritores locais, regionais e os escritores que, sendo de fora, de alguma forma se identificam por afeto com Trás-os-Montes. E, portanto, eu particularmente estou muito feliz por poder ter contribuído, à minha maneira e com aquilo que eu pude para este encontro.”


O festival começou na sexta-sexta, e decorreu até domingo, com muitas iniciativas, com encontros com escritores da região, lançamentos de livros, recitais, mesas redondas, exposições, workshops, uma vigília poética pela paz, entre muitas atividades.