Murçós, aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros, vai receber a primeira edição da Desfolhada Tradicional Transmontana, que vai decorrer no próximo dia 13 de setembro.
Esta será uma recriação da prática agrícola ancestral, que não é nada mais do que remover as folhas da espiga ou maçaroca.
O evento é organizado pela Associação Viver Mais Murçós, com um conjunto de atividades ligadas às memórias antigas, num momento festivo e que também pretende dinamizar a comunidade, como explicou Manuel Rodrigues, presidente desta associação:
“Efetivamente, fomos buscar este tema da desfolhada tradicional transmontana. Embora eu, com a minha idade, me recorde dela ser feita sempre no serão, rodeada de vizinhos. E aquilo que nós tentamos fazer é recriar a desfolhada, que era feita à lareira, e transmitir estes conhecimentos à comunidade em geral. Já que neste momento as comunidades são muito pequenas, as famílias são pequenas e tentamos envolver toda a comunidade, que acho que é isso que é necessário aqui para a nossa região.”
A recriação vai ser realizada tal e qual, como era antigamente. O milho já foi semeado no campo, e nesse dia irá ser colhido, como manda a tradição.
Manuel Rodrigues explica como vai ser ser este dia repleto de atividades:
“Iniciaremos o dia com uma marca que é nossa e que vamos a curto prazo registar, que será
o Café Mineiro. Vamos registar esta marca e que diz respeito aos geosítios, uma vez que nós somos uma terra mineira por excelência, ligada ao volfrâmio e à Segunda Guerra Mundial.
Depois iremos deslocar-nos ao campo, como manda a tradição, com água fresquinha, no cântaro, com as pessoas e com os seus cantares tão bem condizentes com a época e, no local, iremos fazer o corte do milho, iremos transportá-lo para a eira que está destinada para esse efeito através dos feixes que se usavam na cabeça e nas costas.”
Mas conseguir encontrar um carro de bois à antiga não foi tarefa fácil:
“Não conseguimos arranjar em todo o Norte, digamos assim, que procurámos bastante, com bastante insistência, e após várias diligências vimos que realmente não era possível encontrar uma junta de bois. Porque antigamente era assim, era tudo transportado através dos carros de bois.
Não havendo essa possibilidade, vamos fazê-lo, como já referi anteriormente,
através da cabeça, das costas, iremos fazer uma meda, portanto, na eira. Vamos ter também uma merenda típica, cantares, com o grupo de Abragão, que é um dos grupos mais ativos neste recriar da desfolhada.
Está toda a gente convidada para participar na desfolhada, ao vivo. A desfolhada é retirar a maçaroca do milho. E depois iremos ter dois moinhos para fazer a moagem.
Queremos que ele esteja pronto para, no final do dia 13, fazermos nada mais, nada menos, que o milho no pote e fazermos uma degustação do produto que retiramos.”
Outro aspeto importante a salientar é ressuscitar o entrudo de Murçós, com cerca de dez elementos:
Curiosamente, tivemos alguns convites a nível nacional para fazer a nossa apresentação e nós optamos, nesta primeira fase, para o fazer localmente e junto da nossa população.
Iremos ter, nesse entrudo, também o ritual casamenteiro, com quadras feitas na hora, improvisadas, que será sempre muito engraçado. E o serrar da velha, uma vez que o nosso entrudo contemplava estas três vertentes. O careto, o ritual casamenteiro e o serrar da velha.
Basicamente vai ser isso. Acho que vai ser um dia fantástico, depois com os grupos musicais que nos vão ajudar, também ligados a esta temática.
E acho que vai ser um dia que todos vão querer participar, porque de certeza absoluta que vai ser inesquecível para uma primeira edição. Também já temos a segunda edição já agendada para podermos recriar e dessa vez esperemos que seja junto dos nossos imigrantes também.”
A animação cultural estará a cargo do Grupo de Cantares de Abragão e do Rancho Folclórico de Macedo de Cavaleiros. A organização espera acolher cerca de 500 pessoas.
Se participar, quem sabe que não vai encontrar um milho-rei.
Cartaz:
Créditos Fotográficos:CMCerveria