Armazéns do Complexo do Cachão à venda em hasta pública por dívidas superiores a um milhão de euros

Sete armazéns industriais instalados no Complexo do Cachão foram alvo de penhora e estão a ser leiloados em hasta pública para pagamento de dívidas ao Novo Banco e a outros credores num valor superior a um milhão de euros.

O leilão, que está a decorrer numa plataforma eletrónica, é a consequência de uma execução judicial que incide sobre a AIN – Agro-Industrial do Nordeste – detentora do complexo do Cachão cujos acionistas maioritários são os Municípios de Mirandela e de Vila Flor, com uma participação de 49% cada e o restante capital detido por pequenos acionistas.

O presidente da Câmara de Mirandela confirma a execução judicial alegando que a dívida já foi herdada de executivos anteriores e chegou a este ponto porque “o valor é de tal forma grande que não temos capacidade económica para poder fazê-lo”, refere Vítor Correia, acrescentando que não foi possível chegar a um acordo com os credores.

“Houve várias tentativas de negociação, fizemos propostas para adquirir os lotes, depois não se chegou a acordo nenhum com os fundos que são os detentores dos lotes, e neste momento eles fizeram esse leilão, do ponto de vista eletrónico, ainda está a funcionar assim, mas nós estamos muito atentos isso é um assunto que estamos aqui a gerir”, diz.

Questionado sobre se este processo pode representar a machadada final na réstia de esperança que ainda podia existir na requalificação daquele complexo, o autarca de Mirandela ainda não atira a toalha ao chão.

“Nós podemos readquirir os lotes”, garante. “Se nós percebermos que vai ser adquirido por alguma entidade ou por alguma empresa que tem o objetivo de se fixar cá, porque depois tem um problema de licenciamento, e o problema de licenciamento vai ter que ser resolvido”, adianta o autarca de Mirandela. “Não podemos pensar em desenvolver e avaliar outras candidaturas, porque hoje nós para podermos ter essas candidaturas aprovadas, temos que ter o património limpo, não pode estar penhorado, sob pena de depois não termos as candidaturas aceites”, acrescenta.

O leilão dos sete armazéns industriais do complexo do Cachão está a decorrer numa plataforma eletrónica. A maioria decorre até ao final deste mês, outros ainda vão estar até 21 de outubro.

A morte lenta de um sonho de Camilo Mendonça

O CAICA – Complexo Agro-Industrial do Cachão – nasceu em 1963, um projeto arrojado da autoria de Camilo de Mendonça que visava essencialmente, a valorização e a expansão das produções agro-pecuárias da região, através da sua transformação industrial e a consequente comercialização dos seus produtos, canalizando-os não só para o mercado interno, mas, acima de tudo, para o mercado externo.

Chegaram a trabalhar mais de 800 funcionários e foi mesmo construído um bairro social para albergar parte dos trabalhadores e suas famílias

A partir de 1974 deram-se as primeiras grandes convulsões na empresa, relacionadas com a revolução de Abril. O património dos Grémios da Lavoura foi integrado, em 1976, nas Cooperativas e o Estado passou a tomar conta do Complexo do Cachão.

Em 1981, a empresa foi constituída em sociedade anónima, pertença do Estado, mudando novamente de gestão. No entanto, a situação foi-se agravando ao longo da década de oitenta, acumulando-se as dívidas na banca, e crescendo as dificuldades de fazer concorrência ao mercado aberto que se sucedeu à entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia.

Em 1992, o CAICA cessou a sua atividade, na sequência da falência decretada pelo tribunal. Os trabalhadores foram dispensados e receberam indemnizações consoante o seu posto de trabalho e os anos de serviço prestados à empresa.

A maior parte do património que restou do antigo Complexo foi posteriormente entregue às Câmaras Municipais de Mirandela e de Vila Flor.

As instalações do Complexo foram arrendadas por pequenos empresários que procederam à modernização dos equipamentos, de acordo com os contratos feitos com as próprias Câmaras.

INFORMAÇÃO CIR (Escrito por Rádio Terra Quente)

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