“Para voltar a ter o potencial produtivo que tinha vão demorar pelo menos 5 anos”, conta um agricultor de Vila Flor.
São muitos os agricultores, pastores e os apicultores lesados dos vários grandes incêndios que assolaram a região transmontana, nas últimas semanas, que atingiram diversos concelhos, como Mirandela, Vila Flor, Alfândega da Fé, Freixo de Espada à Cinta, Torre de Moncorvo, Mogadouro,Vila Real e Sabrosa.
Depois que verem muitas culturas a serem devoradas pelos incêndios, é tempo de fazer contas aos prejuízos.
Um deles é Vítor Gomes, agricultor do concelho de Vila Flor, com 29 anos, que começou um projeto agrícola em 2018, de jovem agricultor.
Foram cerca de 14 hectares que perdeu, na aldeia de Vale Frechoso, como conta:
“Foram 12 hectares de amendoal com regadio, todo ele, com rega gota a gota, em qual se incluem acessórios, eletroválvulas, miões, tudo mais alguma coisa. E ainda dois hectares de olival também com regadio, ambos com produções. Ainda não se iniciou a apanha de nenhuma das culturas, por isso estamos a falar de 14 hectares de prejuízo ao todo.”
E ainda acrescenta que para voltar a ter o mesmo potencial produtivo, vai demorar pelo menos 5 anos:
“Não era dos melhores anos, em termos de produção de amêndoa, mas era razoável bom. Em termos de prejuízos não podemos contabilizar, não apenas a produção em si, mas como as plantas, a maior parte delas, se calhar 60% ou 80% das parcelas arderam completamente, temos que também contabilizar o estabelecimento do potencial produtivo, que no caso do amendoal, dura entre 3 a 5 anos, ou seja, para voltar a ter uma produção daquelas, mesmo que refaça as parcelas, vou ter que esperar pelo menos cinco anos para elas estarem a produzir mais ou menos como elas estão agora, a somar ao prejuízo que eu obtenho deste ano, da não colheita e do prejuízo da rega, tenho que somar também a não produção dos próximos anos. Por isso, contas certas ainda não terei, mas provavelmente entre 8 a 10 mil euro de hectare, pelo menos.”
Quem também perdeu a sua produção, foi José Almendra, que para além de agricultor, também é apicultor, há mais de 30 anos. O fogo “ceifou” 200 colmeias e 80 hectares, na aldeia de Vilarelhos, no concelho de Alfândega da Fé:
“A mim arderam aproximadamente 200 colmeias. Na minha família arderam aproximadamente 80 hectares de olival e amendoal, com rega e infraestruturas. Entre os terrenos agrícolas e a apicultura foi um prejuízo muito avultado.”
Quem não tem mãos a medir é a Cooperativa dos Produtores de Mel da Terra Quente e Frutos Secos e a Associação dos Apicultores do Nordeste que tem recebido muitos pedidos de ajuda. José Carneiro, o presidente adianta que agora há mais um problema:
“Os eco-sistemas normalmente regeneram, mas demora anos. E normalmente, as nossas plantas que estão na origem no nosso mel de rosmaninho, demoram mais tempo a nascer, e a giesta que é uma infestante, nasce mais rápido e por vezes, as zonas que eram de rosmaninho agora podem passar a ser giestais, esta é outra preocupação que nós temos.”
Os municípios estão a proceder ao levantamento dos prejuízos junto dos lesados, e cooperação com as associações agrícolas, cooperativas e juntas de freguesia, entre outras instituições.
Também esta terça-feira, em Vila Flor estiveram reunidos, diversos autarcas da região, com o Secretário de Estado da Agricultura, João Moura, para avaliar os impactos dos incêndios que assolaram a região.
Em Freixo de Espada à Cinta, arderam 11 mil hectares, em Moncorvo arderam 5 mil e 500, em Mirandela o fogo consumiu dois mil e 900 hectares, em Vila Flor, a área ardida foi de cerca de 2 mil hectares, em Alfândega da Fé, mil e 500, e em Mogadouro, 114 hectares, na aldeia de Estevais.
Fotografia: Município de Vila Flor

