“A Queda dum Anjo” ganha tradução em mirandês

“A Queda dum Anjo”, de Camilo Castelo Branco, ganhou uma versão em mirandês.

A tradução do clássico da literatura portuguesa foi feita pelo professor Alfredo Cameirão, a pedido da Casa de Camilo, e a propósito dos 150 anos da publicação livro.

Um passo importante para a língua mirandesa, considera o tradutor, num processo que nem sempre foi fácil.

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“É um passo em frente na afirmação da língua mirandesa, como língua circular. E, sendo a obra um dos  clássicos da literatura portuguesa, tê-la traduzida em mirandês é também uma afirmação da própria língua mirandesa.

Esta tradução foi muito difícil devido ao tipo de obra que é, e ao português que o Camilo Castelo Branco usava na sua obra. Usar uma língua que era dado como sendo de pastores, para traduzir o discurso de um deputado na Câmara de Lisboa, não é algo fácil.

É um pouco um processo pelo qual todas as línguas passam – se não há a palavra, há que pedir às línguas vizinhas. Há sempre uma forma de dizer as coisas, e é por isso que o mirandês é uma língua viva.”

E esta tradução, diz ainda Alfredo Cameirão, faz todo o sentido, uma vez que uma das personagens da ficção, Calisto Elói, é natural de Caçarelhos, no concelho de Vimioso, onde se fala mirandês.

Em 2019 assinalam-se os 20 anos da ascensão do mirandês a segunda língua oficial do país. Na opinião de Alfredo Cameirão, a ratificação da Carta Europeia das Línguas Regionais e Minoritárias é uma prioridade para a afirmação e valorização da língua.

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“De fomentar o ensino, e de ganhar mais respeitabilidade no Agrupamento de Escolas de Miranda, onde é ensinada. Estamos a falar de uma disciplina extra-curricular, que é lecionada uma vez por semana, sem valor para a média, com professores que não podes seguir uma carreira no ensino da língua, uma vez que não há programa, e trabalham “no arame”.

Essa assunção da Carta poderia ser um grande incremento no ensino. Mesmo assim, mais de metade dos alunos do Agrupamento de Escolas optam por ter mirandês, muito também mérito dos professores.”

“A Queda dum Anjo”, de Camilo Castelo Branco, na versão em mirandês é hoje apresentada na biblioteca da Assembleia da República, em Lisboa, depois de ter sido apresentada na Casa de Camilo, na freguesia de São Miguel de Seide, onde o escritor morou, e em Miranda do Douro.

Uma edição limitada, de 250 exemplares, que resulta da parceria da Câmara de Vila Nova de Famalicão e da Casa de Camilo.

Escrito por ONDA LIVRE