Peça de teatro quer mostrar o lado humano do poeta Camões

Esta segunda-feira à tarde, subiu ao palco do Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros a peça de teatro “O Olho Perdido de Camões”.

A obra celebra os 500 anos do nascimento do poeta d “as armas e os barões assinalados”, e o principal objetivo é mostrar a verdadeira identidade do poeta, e não a sua obra, como explica, Nelson Monforte, o dramaturgo e criador da obra:

Porque é diferente? É único porque pretendemos descobrir Camões, o homem e não a obra dele. Investigamos quem foi este homem. Quem foi este rebelde. Porque é que ele nos interessa a nós, enquanto portugueses atuais e porque é que ele tinha esta coisa da paixão, da sexualidade e empoderamento. Porque é que foi um homem que não foi emigrante. Ele foi expulso do país, ficou 17 anos fora e a dizer eu cada vez amo mais aquela terra e em coisas que eu não saberia que iria ama-las.

O profissional com 27 anos de currículo, pretende sempre que os seus trabalhos sejam inovadores, por isso, fez este trabalho irreverente, que pretende contar a história do Homem, Camões:

O Camões era muito sexual. Há aqui um amor platónico. E nós na peça retratamos Camões, em 1974, como nunca ninguém fez. Ele perde o olho em Ceuta e eu baseei-me quando estava lá a filmar, porque eu sou também de cinema. Em teatro, eu faço imagens diferentes do que é para cinema, porque eu gosto da luz no teatro. Por isso é que as minhas peças são únicas. Tu sentas-te ali, e não é confortável, senão ficavas a ver Netflix em casa. Tu sentas-te ali e tens de criar aquilo tudo.

Como por exemplo, a Castro, é uma dança em Casa Blanca em que tens um minuto para entender que aquele amor era muito sexual.

Para isso, a proposta é mostrar dois Camões, um ibérico e outro meridional, este último, interpretado pelo ator brasileiro Luiz Guarnieri que conta como tem sido a adesão do público, com emoções diversas:

Trazemos essa tensão de dois Camões completamente diferentes, mas que ao mesmo tempo é um espelho e uma proposta arrogada que tenta mostrar o humano Camões. Ou seja, não só aquele da literatura. São reações diversas, isto porque o espetáculo por ser tão arrojado, incomoda demais de diversas formas.

Da própria história da figura emblemática de Camões, tanto pelo aspeto político que é abordado pelo espetáculo. Ou seja, existe essa alusão, e o contorno aos 50 anos de Abril, com a proposta da emigração. Por isso, trazer um Camões nacional e outro meridional, ou seja, eu como brasileiro. A reação das pessoas tem sido muito positiva, a ponto de termos o feedback de pessoas que tiveram emoções muito diversas nesses 60 minutos de espetáculos.

Já o Camões Ibérico, interpretado por Gonçalo André, mostra o herói clássico, teimoso e orgulhoso, mas que também fez crescer o ator enquanto pessoa:

O Camões português vem defender aquilo que é a nossa herança, que pertence a Portugal e vem complicar a vida deste Camões meridional, que tenta a pouco ganhar o seu espaço. É um Camões muito orgulhoso, de ideias muito fixas e da tradição, muito duro.

Uma proposta teatral da autoria de Nelson Monforte, uma das figuras mais marcantes do teatro contemporâneo português, profundamente, aclamado pela crítica, nacional e internacional.

Escrito por Rádio ONDA LIVRE