Arcas foi palco de um colorido encontro de mascarados, com o evento Galhofa (Macedo de Cavaleiros)

O carnaval veio mais cedo, com um desfile etnográfico de várias tradições de entrudo portuguesas e espanholas, neste sábado, na aldeia de Arcas, no concelho de Macedo de Cavaleiros, que juntou 25 grupos de caretos e mascarados.

O ponto alto deste evento, a Galhofa que já vai na segunda edição, foi o desfile.

Foram muitos os que vieram vê-lo, como foi o caso de José Maria Arrigain, que fez 500 quilómetros para assistir ao cortejo e também para o fotografar:

Já estive aqui no dia 26 de dezembro com o propósito de fotografar estes eventos. Venho aqui porque, já há alguns anos que sigo todo o tipo de mascarados. Há 20 anos que descobri uns e fiquei curioso e agora continuo aficionado. Mas apenas em povos pequenos, cidades não me interessam. Porque é algo muito estético e muito bonito. Venho ver e fotografar. Fiz 500 quilómetros para vir aqui.

Um dos grupos que participou, pela primeira vez, veio das Astúrias foram os Sidros e Comedies de Valdesoto. Dois elementos do grupo, Emília Rodrigues Montez e Álvaro da Pia, contaram que as comédias que realizam eram usadas para dar a conhecer o que acontecia nas aldeias, antigamente, quando não havia meios de comunicação social:

É a primeira vez que venho aqui. Correu muito bem. É importante encontrarmos todos e partilhar estes costumes e tradições. Costumamos participar em muitos eventos destes, quer em Espanha, como em Portugal.

A nossa tradição passa por saírem à rua, os Sidros, que apresentam pequenas comédias, que criticam tudo o que ocorreu durante o ano, no concelho. Fazemos críticas políticas às novidades do concelho desse ano, mas que também pode ser da Província e do País. Antigamente, as pessoas não tinham acesso à informação, e os Sidros eram a forma que eles tinham de conhecer o que estava a acontecer no país.

Também da vizinha Espanha, de Navarra, de Olazagutia, veio um grupo. Amaia Iparragirra contou-nos a diferença nas suas vestimentas:

Esta é uma tradição que costumamos fazer no carnaval, que tem uns quantos personagens, que se vestem com pele de ovelha. Porque temos aldeias com muitos pastores. São “zamarros” que têm duas peles, com folhos e aparecem com a cara tapada e ainda com a aplicação de cornos. Também temos os “zamar txiki” que também se vestem com uma pele de ovelha, mas são os pequenos. E temos também as “neskas” que se vestem com uma colcha que é usada como capa, umas calças, e uma cesta. E ainda usa-se um carro, com feno, que quando as pessoas não se davam bem, deitava-se feno à casa. Agora a tradição é mais civilizada, usamos terra que é usada de forma simbólica.

O elemento do grupo de 28 mascarados que veio desta aldeia espanhola, salienta a diferença de cada povo:

É super interessante conhecer outros costumes, à parte de mostrar o nosso, é importante conhecer os dos outros. Em cada aldeia há costumes e tradições ligadas ao Carnaval, muito diferentes e inestimáveis. É uma experiência enriquecedora. E também tenho que dizer que foi um convite, em que nos trataram muito bem.

A organização do evento esteve a cargo da Associação Núcleo de Costumes e Tradições de Arcas que não podia estar mais satisfeita, como comentou Nelson Peixeiro:

Desde que tudo corra bem e que as pessoas vão daqui contentes, é o nosso objetivo. E o feedback que recebi foi de “maravilhas” do evento. Não foi preciso muito dinheiro para fazer um evento como este. Os Caretos de Arcas estiveram inativos durante muitos anos. E em 2019, reativámos esta tradição, com a criação também desta associação, investigámos o que havia, máscaras, fatos e falamos com as pessoas para saber como eram. Como era a máscara, se era de pele ou se de couro, e conseguimos chegar a um consenso. E conseguimos fazer os fatos. Já temos 12. E temos uma máscara de couro que é única.

A Galhofa também contou com o apoio do Município de Macedo de Cavaleiros. O presidente da câmara, Benjamim Rodrigues salientou o trabalho em rede deste desfile de carnaval genuíno de diversas localidades do país e de Espanha:

Este é um marco importante porque a interação com a população é bastante vincada, com uma ou outra manifestação diferente e fizemos um intercâmbio de experiências. Este foi um trabalho em rede, em que para nós termos massa crítica temos também de partilhar. E este é um bom exemplo de como o concelho pode ter dinamismo, nas freguesias e esta também é um bom exemplo disso, com muito dinamismo, com duas feiras temáticas, e mais esta festa de inverno. É ótimo e enquanto município estamos aqui para os incentivar e apoiar. Podemos chamar quase um festival de carnaval, mas um desfile de Carnaval genuíno.

António Tiza, presidente da Academia da Máscara Ibérica, refere que há pouco tempo não havia interação entre Portugal e Espanha daí a importância deste evento:

Estes encontros são bons, até porque há bem pouco tempo, desconhecíamos-nos todos. Quem estava ali ao lado, não se conhecia, muito menos quando era de outro país, como Espanha. Existem muitas semelhanças, mas também muitas diferenças. E é importante que se conheçam e que haja este convívio, naturalmente.

A organização do evento esteve a cargo da Associação Núcleo de Costumes e Tradições de Arcas e pela Junta de Freguesia, contou o apoio do Município de Macedo de Cavaleiros com a Academia da Máscara Ibérica.

A iniciativa contou com um raid fotográfico e animação musical com Batucada e Granus Barbela e uma apresentação teatral a cargo da Filandorra.

Escrito por Rádio ONDA LIVRE