Espanha compra cogumelos portugueses e vende-os 27 vezes mais caros

Os cogumelos apanhados nos campos portugueses estão a ver revendidos, a preços elevados, noutros países.

À margem das primeiras Jornadas Micológicas de Vale Pradinhos, Carlos Ventura, biólogo, diz que cada vez mais proliferam apanhadores de cogumelos que fazem dos fungos uma atividade económica. Chegam à vizinha Espanha por 3€ o quilo, mas podem chegar aos 80€ noutros países depois de ultracongelados, conta o biólogo.

Carlos Ventura defende a regulamentação da apanhada, por diversos factores.

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“Os grandes apanhadores não é para autoconsumo. Somos um país rico? Não somos. A quem é que nós vendemos os cogumelos? Aos espanhóis a preços quase irrisórios. Quem é que faz as mais valias, os espanhóis.

Na realidade é que os cogumelos são apanhados aqui em Vale Pradinhos, são apanhados na serra de Bornes, em todo o nordeste e todo o país. Passam daqui para a periferia da zona fronteiriça de Espanha e de Espanha vão para França, de França para a Bélgica, Alemanha, Itália, Suíça, a preços quase proibitivo.

Para lhe dar um exemplo os boletos que nós apanhamos aqui são pagos ao apanhador 2, 3 €, pela parte dos intermediários espanhóis são depois exportados em bruto já a 80€ para a Suíça, portanto quer dizer a mais valia, estando o Governo preocupado em fazer dinheiro com tudo pelo menos que regulamente esta área. Que haja uma regra ecológica da apanha, que haja uma regra de tributação económica que é fundamental.”

Mas a apanha do cogumelo sem conhecer as espécies venenosas pode ser fatal. Carlos Ventura desfaz algumas falsas crenças populares usadas para identificar estas espécies.

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“Nada é verdade. A teoria da colher de prata não funciona, o dar os cogumelinhos venosos aos animais também não funcionam porque eles tem um sistema digestivo diferente do humano. A questão do alho, tudo são falsas esperanças, cogumelo com anel sem anel, cogumelos que nascem em troncos de madeira, que não nascem em troncos de madeira, tudo isso são crenças não fundamentadas.

Na nossa região há quatro ou cinco espécies mortais. Aliás, nós hoje na saída fizemos, eu ressalvei esse aspeto, de um cogumelo que é o amanita phalloides é o causador de grandes mortes em termos mundiais e que existe nesta altura muito, muito.”

 

Apesar de cada vez haver mais apanhadores nos campos transmontanos, a falta de formação continua a preocupar.

 Foi esse o motivo que levou a Associação Cultural e Desportiva de Vale de Pradinhos a lançar estas primeiras jornadas, afirma Armando Edra, vice-presidente. Esta incursão no campo permitiu até encontrar uma espécie de cogumelo não identificada.

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“Se der porque cada vez está mais na moda as pessoas apanharem cogumelos e serve também de alerta.

Aqui há algumas de Vale Pradinhos, e também pessoas que vêm de fora que nem conhecemos, porque sabem que aqui é uma zona boa de cogumelos e todos os dias se vêm por aqui.

Até que surgiu um fato curioso. Apareceu um cogumelo que nem nos catálogos está identificado, então eles dizem que o vão mandar para Espanha, para um biólogo que está mais acostumado a estas espécies para se saber que qualidade tem. “

 

Os participantes vieram de vários pontos da região. Para além do convívio e do ar livre, querem saber mais, para evitar micetismos, ou seja, a intoxicação por cogumelos.

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“Porque é elucidativo, e é sempre bom ter conhecimento dos cogumelos, que eu gosto. Acho que isso é muito importante que estas jornadas aconteçam, porque vão desmistificando mitos. Tem que se saber quais são os bons.” – conta João Miranda, de Vimioso.

“Uma das primeiras perguntas foi essa: “explique-me uma coisa por favor tem alguma coisa a ver, ou se temos alguma certeza a 100% se a colher de prata ou o alho”, e ele da resposta perentória: não. Por isso deixou-me mais descanso e temos que ir à procura de algo mais seguro. Empiricamente nós íamos aprendendo mas no meio disto tudo havia sempre aquelas surpresas e dissabores de famílias inteiras dizimadas. Eu recordo-me que na minha aldeia numa família de 5 pessoas ninguém se salvou.”, é o relato de Artur Bárrios.

 

O balanço das primeiras Jornadas Micológicas de Vale de Pradinhos, que decorreram ontem à tarde.

Escrito por ONDA LIVRE