O período de seca que o país atravessa levou a uma quebra na produção de cogumelos a rondar os 90 %.
E se não chover nos próximos dias a situação vai piorar e até a produção do próximo ano está já comprometida, como refere o biólogo Carlos Ventura.
“Houve uma quebra muito acentuada a rondar os 90 %.
Solo sem humidade, basicamente seco, não houve reposição dos níveis hídricos e, a não ser que chova nos próximos dias, a situação está calamitosa, não só para os cogumelos mas para as agricultura em geral.
Com este défice de água os micélios, estrutura que dá origem aos cogumelos foram desnaturados. Sendo assim, como o quedaria origem a esses cogumelos está destruído, vai levar a uma ausência de produção e, para o ano, é provável que a maior parte da reprodução seja por via espórica, ou seja, vai ser demorada.”
A apanha desregrada do cogumelo para posterior venda em países estrangeiros a preços elevados, como é o caso da Espanha, tem-se vindo a agravar de ano para ano, o que, para Carlos Ventura, seria resolvido com a implementação de medidas de valorização do produto.
“Tem sido cada vez pior. Continuo a dizer que as entidades responsáveis não têm o discernimento de dizer que os cogumelos são uma mais-valia e que, de facto, as próprias finanças portuguesas, num país que está tão parco de recursos económicos, possa ter ai uma aproveitamento e possam fiscalizar e taxar fiscalmente os cogumelos porque depois eles vão ser vendidos ao estrangeiro e quem vai tirar o lucro disso são os outros países.
Eu acho que o governo poderia implementar, primariamente, legislação específica e, a par disso, as entidades fiscais que, neste momento fiscalizam tudo, deveriam poder taxar através de medidas preventivas. As pessoas quando vão apanhar cogumelos conhecem as espécies mas depois precisam de ter noção que são mais-valias que pertencem a todos os portugueses e que esses benefícios precisam ter um retorno para o Estado também, ao invés de serem outros governos a fazê-lo. “
E como exemplo de valorização deste produto encontramos Francisco Touças, é proprietário de um restaurante em Bragança e os pratos que confecciona são todos à base do cogumelo. O empresário que considera que os cogumelos podem vir ser um substituto da carne no futuro mas em Portugal ainda há muito a fazer nesse sentido.
“Temos vários pratos, desde a açorda, o risoto, cogumelos salteados com castanha, portanto, são produtos da região que estamos a tentar aproveitar, se bem que este ano tem sido complicado encontrar cogumelos silvestres devido à falta de chuva.
Eu acho que os cogumelos vão ser a carne do futuro pois existem alguns, como é o caso do boleto que tem bastante conteúdo, que são uma refeição excelente.
Porém, Portugal ainda está atrasado em relação a outros países no que toca à valorização dada ao cogumelo.”
Declarações à margem das IV Jornadas Micológicas que aconteceram no domingo em Vale Pradinhos, Macedo de Cavaleiros.
Durante manhã, uma equipa de curiosos sobre este fungo vieram propositadamente de vários pontos do país para ir ao monte em busca de cogumelos. As espécies mais comuns na zona, como é o caso dos boletos, não foram encontrados, aparecendo, ao invés disso, os vulgarmente conhecidos Champignon de Paris, espécie esta invulgar nesta altura do ano.
Durante a apanha, os participantes receberam uma aula de campo, onde aprenderam as diferenças entre as espécies comestíveis e não comestíveis.
“Já não é a primeira vez que participa nesta atividade? Não, é e terceira vez este ano. Gosto da natureza, de cogumelos. Esta é uma das melhores zonas do país para se encontrar cogumelos embora este ano haja poucos mas aprende-se sempre alguma coisa.
É a primeira vez que participo aqui em Vale Pradinhos sim, nesta zona. Costuma é participar nos que organizam em Vimioso.
Tennho um particular interesse nesta área. É uma coisa que a natureza nos dá e muitos são comestíveis por isso nunca é demais saber o que podemos comer e o que não, fazer a identificação. Os comestíveis já conhecemos um bocadinho mais.
Não é a primeira vez. Só fomos uma vez com um amigo, eu gosto muito da natureza, de andar assim no meio ambiente. Fui fazer uma vez algo do género e gostei muito. Agora quando tiver este convite vim.
Depois desta manhã com explicações no terreno já se sente mais conhecedora dos cogumelos? Sim, também sou muito interessada em qualquer matéria. E eu gosto muito de ser informada.”
As Jornadas Micológicas são uma organização da Associação Cultural, Desportiva e Recreativa de Vale Pradinhos, onde nem a quebra acentuada de cogumelos que se verifica este ano impediu que a participação fosse crescente. Quem é o diz é Armando Edra, o presidente.
“Sem dúvida, tem sido um sucesso ano após ano e melhoramos sempre.
Vêm também de outros pontos do país? Sim, de outros concelhos e distritos. Temos pessoas do distrito de Braga, Leiria, Aveiro, Porto e isto porque está-se a tornar um vício. As pessoas estão viciadas em cogumelos e as pessoas sabiam que não havia, mas vieram pelo evento, pelo convívio. Já nos conhecem, sabem a nossa forma de receber e tratar as pessoas e por isso vieram.”
As IV Jornadas Micológicas de Vale Pradinhos a ensinar mais sobre as formas de identificação das várias espécies de cogumelos existentes na região.
Escrito por ONDA LIVRE