Populares protestam contra a exploração de lítio em Boticas e Montalegre

A guerra à exploração de lítio em Boticas e Montalegre ficou ontem ao rubro.

O secretário de Estado da Energia, João Galamba, visitou o Centro de Informação de Covas do Barroso, que explica o projeto mineiro previsto para aquela localidade, e foi confrontado com o protesto da população que não quer uma mina a céu aberto perto de casa.

“O Povo é quem manda, não és tu Galamba” gritaram dezenas de populares à passagem do secretário de Estado. “Não à Mina, Sim à Vida”, insistiram enquanto rodeavam o carro que o transportava.

Nélson Gomes, presidente da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, prometeu que a população está disposta a fazer tudo o que estiver ao seu alcance e que nunca vai desistir para evitar que a mina se instale:

“Soubemos que o Secretário de Estado vinha reunir-se com a empresa e nós estamos aqui a manifestar a nossa indignação para dizer que em Montalegre e arredores também há gente e merecemos respeito. Nunca fomos ouvidos nem ninguém nos perguntou nada, por isso dizemos não à mina e sim à vida e não vamos desistir. Estamos a defender aquilo que é de todos nós.”

 A Associação Montalegre com Vida, com luta contra a instalação de uma mina de lítio em Morgade, também esteve solidária com este protesto em Covas do Barroso.

O dirigente Armando Pinto frisou que não se pode pôr em causa a qualidade de vida das pessoas que ali vivem:

“As populações nunca foram ouvidos até ao momento. Em todo este processo, as populações deviam ser as primeiras a ser ouvidas e nós não vamos aceitar que destruam as nossas terras, que fazem parte da Rede Natura 2000. Onde querem fazer a mina existe uma zona tampão do Parque da Peneda-Gerês. Depois, há uma barragem ao lado que abastece centenas de milhares de pessoas de água e nós não vamos permitir que destruam tudo isto. Aqui ainda vive gente e não vamos deixar hipotecar o nosso futuro.” 

Aos jornalistas, João Galamba disse que estava à espera de poder falar com as pessoas em Covas do Barroso, mas devido ao protesto não foi possível explicar o que se pretende com a exploração de lítio:

“Estava à espera porque estavam presentes pessoas de Montalegre mas achei que podia falar com as pessoas, mas não. O grupo que me recebeu não pareceu muito disponível para conversar mas fizemos uma visita ao local onde estão a decorrer os trabalhos de pesquisa e aí conseguimos falar com pessoas da aldeia mais próxima num ambiente mais descontraído, onde fizeram as suas dúvidas e expressaram as suas críticas.” 

 João Galamba explicou ainda que a extração de lítio não é diferente de uma pedreira de granito:

“Esta região tem uma longa tradição mineira e muitas pedreiras. Entre duas das principais termas do país, Pedras Salgadas e Vidago, há uma grande pedreira de granito e a única coisa que posso dizer é que é equivalente a uma pedreira de granito. Para sossegar as pessoas e aqueles que pensam que o lítio irá provocar uma transformação muito significativa na vida destes territórios, lembro que estes convivem há muito tempo com pedreiras e não é uma novidade nestes territórios. A água continua a ser saudável e a vida decorre com normalidade.”

O secretário de Estado da Energia garantiu ainda que se o Estudo de Impacte Ambiental for negativo ou se as medidas compensatórias não puderem ser aplicadas não haverá mina.

O presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiroga, aproveitou a visita de João Galamba à zona da prospeção para lhe mostrar a paisagem degradada e dizer que não concorda com o argumento de que a exploração de lítio não traz prejuízo para as populações:

“Fomos ao local ver como a paisagem está degradada e devastada. Defendem que isto não traz prejuízo para as populações, mas eu expliquei que não é esse o nosso ponto de vista, que vai prejudicar e muito, assim como o Património Mundial Agrícola e Paisagístico, que nos pode ser retirado e isso é um selo que, como é evidente, não queremos perder.”  

As populações do Barroso que poderão ser abrangidas pela exploração de lítio temem a contaminação de rios e ribeiras, albufeiras de abastecimento de água a domicílio, danos irreversíveis na agricultura, nas paisagens, no modo de vida e no potencial turístico.

 

Foto: Município de Boticas  

INFORMAÇÃO CIR (Rádio Ansiães)