Covid-19: e aqueles que não podem mesmo fechar portas?

Perante o estado de pandemia que o país atravessa devido à covid-19, as recomendações da Direção Geral de Saúde têm sido claras: se puder, fique em casa, e evite ao máximo o contacto com outras pessoas, a fim de se proteger a si e aos outros. Embora vários estabelecimentos tenham fechado como forma de prevenção, há serviços que não podem mesmo bater com a porta.

Começamos pelos profissionais de saúde, desde o médico ao auxiliar, que têm um papel fundamental no diagnóstico e tratamento de sintomas dos infetados até às forças de segurança que precisam de estar operacionais para que a maior normalidade possível seja mantida.

Mas como eles, há mais categorias profissionais que se mantêm firmes perante esta situação.

Catarina trabalha num supermercado. Encerram ao público uma hora mais cedo e restringem a afluência de pessoas na loja. No entanto, conta que após o horário laboral, opta pelo isolamento social como forma de resguardar a família:

“Já notamos falta de iogurtes, arroz, lixívia e papel higiénico. São cada vez mais prateleiras a ficarem vazias. 

Entretanto já pedi à minha família que não me venha visitar e disse-lhes que eu também não o faria. Não sei até que ponto estou ou não doente porque estou em contacto com muito público, e por isso não fazia sentido pôr os meus em risco.”   

 

Ana é farmacêutica e ficar em casa também não é opção. Diariamente, têm sido implementadas medidas para salvaguardar a saúde de funcionários e utentes na farmácia onde trabalha, explica:

“Na farmácia já foram tomadas medidas para nos proteger a nós e aos outros. De qualquer maneira é sempre complicado saber que ao ir trabalhar me estou a expor e isso impede-me de estar com quem mais gosto, porque há o risco de os deixar mais vulneráveis. É uma situação complicada de lidar até mais pelos outros que por mim. 

Nós não temos postigo e por isso estamos a atender dentro das farmácias. Nos balcões temos uma proteção de acrílico, e isso previne que as pessoas falem diretamente connosco. Além disso, há marcas no chão que indicam onde as pessoas se podem colocar, embora a maior parte opte por aguardar na rua, têm alguma consciência do que  isto é.”   

 

E há cerca de duas semanas que as vendas dispararam no que toca ao álcool etílico e a medicamentos antipiréticos:

“As pessoas procuram mais medicação preventiva, nomeadamente paracetamol para situações em que tenham algum tipo de febre, e antigripais, para conseguir controlar algum tipo de sintoma. Procuram também por produtos preventivos para o contágio, e aqui falamos de álcool gel, álcool normal e máscaras, o que neste momento já está tudo esgotado.”  

 

Também os lares de idosos, nos quais foram suspensas visitas, não podem parar os serviços. Diariamente, Maria sai de casa para tratar de “quem mais precisa”:

“Sabemos que são utentes que precisam dos nossos cuidados. Claro que temos mais precaução ainda neste momento, mas temos de ir e estar lá porque precisam de nós.

Os que estão relativamente bem, apercebem-se da situação porque vêem televisão e compreendem que alguma coisa não está bem, embora possam não ter ainda muita ideia do que seja, mas sabem que é mau. Também sabem que não podem ter visitas e só podem falar com os familiares através do telefone. No entanto, perguntam muitas vezes se isto realmente é mau e têm medo, tendo consciência de que são um grupo de risco.”

 

E é em prol dos mais vulneráveis que trabalha também Luísa Garcia, presidente da CERCIMAC – Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Macedo de Cavaleiros, e admite “não são tempos fáceis”:

“A CERCIMAC tomou todas as medidas que eram impostas pelas autoridades de saúde. As famílias não podem visitar a instituição e os utentes que estavam apenas nas nossas instalações em regime de dia, não vêm. É uma questão de precaução porque poderia haver maior contaminação com pessoas a virem de fora. Tivemos também já indicações que todas as respostas do Centro de Atividades Ocupacionais seriam suspensas.”

 

Hugo é bombeiro há 13 anos. Não nega as preocupações que esta situação lhe traz mas sabe que a sua missão é para ser cumprida. Todos os dias veste a farda para continuar a prestar socorro:

“É complicado porque nós também temos família. Sabemos que o nosso dever é estar lá para a população, sendo que no nosso concelho a maioria das pessoas está isolada em casa. 

Temos de ter cuidados redobrados, não levar a roupa do trabalho para casa, transportá-la num saco para pôr a lavar. Temos de tentar ter os cuidados máximos porque estamos também na linha da frente.”  

 

Embora se aconselhe à população que permaneça em casa, nunca é demais lembrar aqueles que, em detrimento dos outros, têm mesmo de sair.

Uma situação que não tem data para abrandar e na qual, embora muitos optem pela quarentena voluntária e pelo tele-trabalho, há profissionais que continuam a vestir a camisola em prol do serviço ao público.

 

Escrito por ONDA LIVRE