Oiça aqui a reportagem:
O impacto da Covid-19 está a fazer-se sentir em diversos ramos da economia, e a indústria dos casamentos não é exceção.
Há um ano que Anabela e Hugo planeavam afincadamente o dia que seria o mais feliz das suas vidas. No calendário, escolheram o 6 de junho de 2020, como a data em que iriam jurar o amor até que a morte os separe, perante família e amigos. A pandemia Covid-19 trocou-lhes as voltas e em março deste ano, tomaram a decisão de adiar o sonho:
“Decidimos adiar por razões que nos ultrapassam, ninguém contava com esta pandemia. Termos tudo planeado e sermos obrigados a suspender o dia com que tanto sonhamos, custa. Aos poucos fomos-nos apercebendo da gravidade da situação e uma vez que era um evento que implicava tanta coisa, decidimos adiar com alguma antecedência. A nossa decisão foi tomada em meados de março, e na altura não sabíamos o estado em que o país ia estar em junho, mas pela forma como as coisas estavam a evoluir, chegámos à conclusão que adiar um ou dois meses não iria fazer grande diferença, então jogámos pelo seguro e decidimos esperar um ano, na esperança de que tudo tenha regressado ao normal nessa altura.”
Na lista estavam cerca de 200 convidados, parte deles a residir no estrangeiro. Este casal, como tantos outros, viu-se obrigado a rever contratos com todos os fornecedores.
Mesmo com os planos falhados, não negam que o mais importante é permanecerem juntos:
“O sonho foi adiado mas o mais importante é continuarmos juntos. No próximo ano será tudo festejado com mais intensidade ainda. Temos que ver as coisas pelo lado positivo e pensar que temos mais um ano para planear tudo. Vamos tornar o nosso dia inesquecível, para nós e para todos os que estiverem presentes.”
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, em 2019 foram celebrados mais de 30 mil casamentos em Portugal. Este ano, a queda pode ser abrupta, e há vários ramos do setor que se vêem de mãos atadas sem fonte de rendimento.
Filipe Pinto, responsável pela Quinta da Charrete, em Macedo de Cavaleiros, costuma ter cerimónias marcadas desde março até outubro e até agora nenhum se realizou:
“Estamos a ter um grande prejuízo, porque a nossa agenda foi completamente adiada para o próximo ano. As pessoas não sentiam confiança, muitos familiares não podem estar presentes porque estão ausentes do país, outros por motivos profissionais porque trabalham no ramo da saúde e estão envolvidos nesta pandemia. A grande razão são todas as condicionantes que um evento deste género tem para se poder concretizar, como o uso de máscara, não haver pista de dança, respeitar distância de segurança entre os convidados. Estas restrições acabam por tirar algum brilho à festa.”
Da mesma preocupação partilha Francisco Salomé. É fotógrafo há 12 anos e tem uma das funções mais importantes: registar memórias. Tinha à volta de 25 casamentos marcados antes do início da pandemia, que entretanto foram suspensos:
“Os casamentos são uma tábua de salvação para este ramo. Dependemos destas festas e eventos e este ano o retorno é zero. A maior parte das pessoas não querem arriscar e marcar para mais tarde porque não sabem se realmente a situação estará melhor e se os familiares poderão vir. É complicado. Trabalhamos muito com emigrantes, e como tiveram pausas devido ao vírus, os próprios patrões não irão dar férias. O receio de contagiar quem cá está, também é assumido. Desta forma, a festa nunca seria igual.”
O mês de agosto é um dos mais concorridos para dar o nó. Pedro Correia é DJ e responsável por abrilhantar através da música alguns dos momentos mais marcantes da cerimónia, mas por enquanto, as pistas de dança continuam fechadas:
“90% dos casamentos foram adiados mas ainda há algumas noivas que têm esperança de casar este ano. Ainda não tive oportunidade de realizar nenhum casamento desde que estamos nesta situação mas da experiência que tenho acho que é quase impossível não haver aproximação entre as pessoas. O dia do casamento é um dia de afetos, emoções e de as pessoas estarem próximas.
Do lado da animação, ainda não é permitido haver bailes, porque as pistas de dança continuam fechadas. Os casamentos que há agora têm apenas música ambiente, nada mais.”
Apesar de todas as contas que os empresários ligados ao ramo dos casamentos continuam a ter de pagar, o medo deste vírus desconhecido sobrepõe-se aos restantes sentimentos. O que continua intacta é a vontade dos noivos em dizer “o sim”, e viverem “felizes para sempre”.
Escrito por ONDA LIVRE