Muito se fala de tudo aquilo que a pandemia de Covid-19 veio alterar. O impacto na economia, na sociedade e no dia a dia de cada um de nós, mas pouco se diz acerca das relações interpessoais. O que é certo, é que o confinamento obriga a que, a maioria dos casais, tenha de estar junto em todas as horas do dia, o que, muitas vezes, provoca conflitos que fizeram disparar, consideravelmente, a procura de terapia de casais. Quem o diz é Vânia Magalhães, psicóloga clínica, com especialidade na vertente de sexologia clínica e terapia de casal:
“Nota-se um grande aumento porque, na maior parte das relações, os casais só se viam de manhã, à noite ou fins de semana, e com o confinamento e teletrabalho há muitos casais a terem de conviver 24h por dia dentro do mesmo espaço, sem momentos lúdicos ou válvulas de escape. Isso leva, claro, a uma hiperconvivência que, somada à insegurança e falta de alguma paciência pode levar a alguns conflitos, levando ao aumento da procura desta terapia.”
Embora a pandemia tenha obrigado a sociedade a adaptar-se à chamada distância de segurança e, muitas vezes, impossibilite os encontros de quem habita em diferentes partes do mundo, certo é que veio agudizar a vontade de aumentar o auto-conhecimento a nível sexual, considera a psicóloga:
“Realmente verifica-se um constrangimento em volta deste tema. No contexto educacional das famílias, ainda é difícil falar sobre este tema de pais para filhos. O mesmo acontece nos casais, porque nem sempre há uma comunicação aberta e facilidade em falar daquilo que se gosta ou do que se gostaria de fazer. Penso que, nesta vertente, a pandemia tem tido resultados positivos porque as pessoas têm tido mais tempo para o auto-conhecimento, para lerem e procurarem mais sobre este assunto. Tem também havido uma maior procura por coisas diferentes. Podemos estar aqui a falar de adaptações, mesmo nos casais à distância. Falo do sexing, dos contos eróticos, ou até sexualidade por videochamada que, embora tenha alguns riscos e é importante a segurança acima de tudo, pode vir a revelar-se uma forma dos casais controlarem a distância provocada pela pandemia.”
E ainda que falar em sexo continue a ser considerado como tabu, Vânia Magalhães, adverte para a importância de procurar ajuda quando algo não corre pelo melhor a este nível:
“A falta do desejo pode acontecer e tem razões de ser, mas pode ser contornada. Não se justifica que uma pessoa viva uma vida com falta de desejo ou dor na sexualidade. Isto acontece muito, existem muitas mulheres que vivem uma vida inteira a achar que a dor faz parte da sexualidade, e não faz. É importante dar atenção à vida sexual e perceber de onde vêm as dificuldades e de que forma podem ser contornados. Mesmo nos homens, existem muitas problemáticas como a disfunção erétil ou ejaculação precoce. São problemas que não devem ser descurados.”
A psicóloga remata com algumas dicas importantes para uma relação saudável, admitindo que a comunicação é a chave fundamental de uma vida a dois:
“Tendo em conta que, na generalidade, o que está detrás dos conflitos é quase sempre a falta de disposição para sentar e conversar, eu diria que é muito importante investir na comunicação e em tentar perceber as emoções do outro e aquilo que sente. Por outro lado, para que não se caia na monotonia é muito importante que, diariamente, se invista na relação e em falar sobre o casal. Programas diferentes são sempre uma boa opção.”
O sexo online e a masturbação têm sido indicadas como as práticas mais seguras desde a chegada do novo coronavírus. Certo é que a Ordem dos Psicólogos Portugueses apela à imaginação para que o prazer possa surgir de diversas formas.
As relações íntimas a serem também afetadas pelo stress causado pelo novo coronavírus.
Escrito por ONDA LIVRE