A falta de capacidade das empresas extratoras de bagaço de azeitona está a fazer com que alguns lagares se vejam obrigados a parar por estes dias.
O aumento de produção e a rapidez na apanha estão na origem do problema, e este é um ano atípico, explica Licínio Miranda, gerente administrador da Aucama, uma das três empresas extratoras da região:
“A situação atípica deve-se ao aumento da produção, o que tem vindo a verificar-se ao longo dos anos, mas a esse facto associou-se outra questão que é uma capacidade de apanha extremamente rápida devido às condições climatéricas que este ano se verificaram e também à mecanização cada vez maior do setor da apanha. Isso fez com que, num curto espaço de tempo, a nossa capacidade de receção se esgotasse.
Esta situação não se verificou nos últimos anos mas sim há uns seis ou sete, devido também a uma produção excecional, e este ano.”
Se a produção de azeitona continuar a aumentar, para dar resposta as empresas terão de alargar a capacidade de receção. Mas para isso são necessários apoios:
“Será necessário aumentar a capacidade de produção, mas para isso temos de ter alguns apoios . As extratoras são sempre vistas como o parente pobre, o fim da fileira, mas somos tão importantes como o resto dos setores, e não há qualquer apoio.”
A empresa parou desde ontem e prevê que possa voltar a funcionar a partir da próxima segunda-feira, embora sem certezas.
Até lá, vários lagares estão impedidos de receber azeitona.
Na Cooperativa Agrícola de Macedo de Cavaleiros, por exemplo, onde a produção total de azeite este ano deve ultrapassar o milhão de litros, o presidente, Luís Rodrigues, diz que por estarem já no final da campanha, ainda conseguem receber azeitona, mas com limitações:
“Ainda bem que este problema aconteceu no final da campanha porque já tivemos problemas maiores há alguns anos atrás.
Nesta fase temos 90% da campanha feita, não vamos ter problemas de recolha porque temos capacidade para continuar a receber, mas estamos condicionados às horas de laboração por não ter onde pôr o bagaço.Neste momento estamos com trabalhar a 40% da nossa capacidade para poder colocar o bagaço.”
Já no lagar Olimontes, também em Macedo de Cavaleiros, que estima ter receber um total de quatro milhões de quilos de azeitona até ao final da campanha, Jorge Lopes, que é responsável pela gestão, conta que tiveram de se adaptar para continuar a trabalhar:
“O problema não é novo e tem vindo a agravar-se ao longo dos últimos anos.
No nosso caso, temos um tanque que não foi criado para este efeito mas fizemos uma adaptação para poder retirar o bagaço e utilizá-lo durante a campanha.Já o estamos a utilizar e é o que provavelmente vamos fazer até ao final da campanha.A verdade é que nós, durante os últimos anos, temo-lo utilizado porque no final da campanha é frequente as empresas extratoras atinjam o limite da capacidade.”
No caso deste lagar, e para contornar o problema, o gestor conta que têm um projeto submetido para que possam dar outro fim ao bagaço:
“O bagaço é considerado um desperdício com forte impacto ambiental e, por isso, a solução que venha a viabilizar o aumento da capacidade das extratoras terá de ser amiga do ambiente.
Temos inclusivamente um projeto de um secador de bagaço, cuja candidatura já foi submetida. A secagem seria feita através da vaporização da água e depois novamente condensada. Quando esta é feita, transforma-se em água destilada que pode ser devolvida, ou a um curso de água ou até aproveitada para qualquer fim, sem contra-indicações ambientais.Estamos à espera que venha a aprovação para podermos aliviar um pouco este constrangimento dos lagares da nossa região, pelo menos do concelho de Macedo de Cavaleiros.”
Na região, e a servir o Norte e parte do Centro do país, há apenas três empresas que fazem a extração do bagaço, uma no concelho de Mirandela, que também vai fechar esta semana, a Aucama em Valpaços e uma terceira no Pocinho.
Escrito por ONDA LIVRE