Este domingo decorreu a Primeira Festa do Linho, em Talhas. Um momento que pretendeu recordar o ciclo desta planta e as suas fases. A iniciativa desta atividade partiu de Adriano Rodrigues, um particular aficionado que pretendia realizar uma demonstração, de como se trata esta herbácea, dando a conhecer o seu processo até estar pronto para ir ao tear. Desde os 12 anos que sempre acompanhou o tratamento do linho.
A assistir a atividade estiveram cerca de 300 pessoas e ainda envolveu a participação de cerca de 50 elementos da comunidade local.
Uma atividade que para o ano, está prometida realizar, no entanto Adriano Rodrigues, garante o evento correu muito bem, como explica:
“Foi muito bom, as pessoas gostaram muito. E já me disseram para a realizar para o ano outra vez”.
Presente na atividade esteve Benjamim Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, que nos dá conta que este ciclo esteve perdido, e por isso é muito importante reavivar-lo:
“O ciclo do linho estava perdido, na nossa região, que já teve uma grande tradição à volta deste material. Tivemos a oportunidades de assistir a todas as fases. E reavivar esta cultura é fantástico.”
Até se poder fiar, o linho leva um tratamento de cerca de 6 meses. Depois de o semear, arrancar, secar durante cerca de 5 dias, molhar no rio para a fibra ficar mais macia. Depois é preciso espada-lo, para fazer sair a palha e vai para o sedeiro, para ficar mais fino. Até se fazerem os novelos e poder ir ao tear. Um processo longo e com muitas passagens, daí a celebre frase, que refere as voltas que o linho dá.
O autarca local, não esconde a enorme satisfação que tem por esta tradição ser outra vez recordada:
“Só posso estar muito satisfeito, porque as pessoas mostram que estão vivas e que querem ir buscar tradições e cultura do passado.”
Benjamim Rodrigues, enaltece a iniciativa de Adriano Rodrigues, apesar de garantir todo o apoio à atividade:
“Partiu da sua iniciativa, foi contactando connosco ao longo de um ano. Sempre na incerteza que o linho poderia crescer ao não. Porque houve uma tentativa que saiu gorada, mas depois ele conseguiu semear. A prova disso é que a festa fez-se. O ciclo foi mostrado, com participações de pessoas que são entusiastas deste processo do linho.
Na região de Trás-os-Montes é inédito vamos apostar muito na recuperação desta tradição.”
O linho em Portugal foi introduzido pelos romanos. A sua produção até à Idade Média, contou com uma atividade intensa de natureza caseira e artesanal e com uma importância fulcral na economia. Nos inícios e meados do séc. XIX, aparecem os primeiros teares mecânicos, e o início da exportação desta matéria-prima. No entanto, mais tarde, o algodão ganha espaço sendo a única fibra têxtil para tecidos correntes e baratos. E assim, o linho deixa de ter a importância comercial que tinha até então.
A tradição artesanal foi imperando nalguns casos, nos últimos anos e foi reativada, como é o caso de Talhas, que já se estava a perder.
Uma tradição ancestral que foi agora recuperada em Talhas, no concelho de Macedo de Cavaleiros.
Escrito por Rádio ONDA LIVRE
Fotografia: CM de Macedo de Cavaleiros