Não há qualquer previsão de uma data para a eventual reabertura do serviço de Cirurgia-Geral da Urgência do Hospital de Mirandela, encerrado há um ano, na altura justificado como sendo uma medida temporária, devido à greve dos cirurgiões às horas extras.
Pela primeira vez, o presidente da administração da Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSNE), falou à comunicação social sobre o assunto. Foi na passada terça-feira, em Bragança, à margem do evento público do projeto “PNS em Movimento: Ao encontro das Pessoas em Portugal”, com foco no tema “Natalidade, longevidade e envelhecimento saudável”.
Carlos Vaz confirma que os três cirurgiões, que estavam alocados ao serviço em Mirandela, “recusam-se a fazer urgências”, confirmando a informação dada pelo Ministério da Saúde ao Grupo Parlamentar do PCP na Assembleia da República, em fevereiro deste ano, de que os três cirurgiões manifestaram a sua indisponibilidade para continuar a realizar serviço de urgência, devido à sua idade (entre os 58 e os 68 anos).
Segundo o administrador da ULSNE, “há 12 anos que não se faz urgência médico-cirúrgica em Mirandela. O que tínhamos lá era um médico na urgência para fazer eventualmente as transferências, mas infelizmente, os três médicos que faziam esse serviço recusam-se a fazer esse trabalho e a Lei protege-os, pelo que enquanto não tivermos mais médicos nessas áreas não podemos fazer isso” (reabrir a urgência de cirurgia geral).
Por Lei, os médicos podem optar por não trabalhar à noite nos serviços de urgência, a partir dos 50 anos, e, depois dos 55, podem pedir dispensa total do trabalho nas urgências.
Carlos Vaz adianta que está a ser feito um estudo nacional para a reorganização das urgências em Portugal e diz estar “expectante para que com os resultados exista objetividade”, acrescenta.
Ainda assim, o administrador da ULS do Nordeste, diz que o distrito até está bem dotado de meios de acesso aos servições de saúde quando comparado com os grandes centros urbanos. “Todos gostaríamos de ter todos os acessos aos serviços de saúde e um hospital em todo o lado, mas é impensável termos um hospital em cada quintal, pelo que tem de haver planeamento e reorganização, mas fundamentalmente criar às populações esse acesso através dos bombeiros e do INEM, e nesse aspeto até já estamos melhor do que outras regiões, porque temos uma acessibilidade muito grande”, e Carlos Vaz deixa um exemplo: “acreditem que é muito mais fácil vir de Vimioso a Bragança do que nas grandes cidades, nas horas de ponta, uma pessoa ir da Amadora ao hospital de São João ou ao Santa Maria, certamente que demorará muito mais tempo”, garante.
Carlos Vaz não se compromete com prazos para a eventual reabertura do serviço de cirurgia-geral da urgência do hospital mirandelense. “A esperança é a última coisa a morrer, agora temos de ter a noção da realidade e quando tivermos profissionais iremos avançar”, afirma.
Ao mesmo tempo faz questão de destacar que o hospital de Mirandela tem vindo a ser dotado de melhores meios. “Todos os dias instalamos coisas novas. Hoje o centro de ambulatório de toda a área da ULS Nordeste é em Mirandela e são muito mais pessoas operadas lá do que nos outros dois hospitais, ao nível do ambulatório, temos também um grande centro de gastro em Mirandela e criamos agora um serviço de paliativos e temos centralizado lá outras áreas da urgência, nomeadamente, a oftalmologia, pelo que somos três hospitais num raio pequeno com acessibilidades grandes e sei que toda a gente quer tudo, mas não há hipótese para termos tudo e articulando com todas as instituições, seguramente, prestaremos um melhor cuidado à nossa população”, conclui
Por agora, os doentes que estão na área de abrangência da urgência do hospital de Mirandela – cerca de 47 mil habitantes dos concelhos do sul do distrito – que necessitem de ser vistos por um profissional de saúde ligado à cirurgia geral, ou que tenham de ser submetidos a uma intervenção cirúrgica urgente, vão continuar a ser encaminhados para a urgência do Hospital de Bragança.
INFORMÇÃO CIR (Escrito por Rádio Terra Quente)