O Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, bebidas e tabacos de Portugal (SINTAB) acusa a empresa Cuga, antiga Varandas de Sousa, produtora de cogumelos, de estar a substituir os trabalhadores mais antigos e reivindicativos pelos seus direitos de trabalho, por novos funcionários.
Para isso acontecer, a empresa está a exercer pressão aos trabalhadores, para que seja acordada uma rescisão dos contratos de trabalho, de forma amigável, mas sob pressão.
O sindicato adianta que para já chegaram a acordo cerca de 15 trabalhadoras, na unidade de Vila Flor, com propostas de acordo “amigável”, mas que “de amigável tem pouco”, garante o dirigente regional do sindicato, José Eduardo Andrade.
Às trabalhadoras é lhe colocado um futuro negro, com pressão de um despedimento coletivo ou extinção de posto de trabalho, quando na verdade a empresa não tem problemas financeiros, como explica:
Isto de amigável tem pouco. A proposta é de rescisão amigável, dentro do refúgio na lei que permite que uma rescisão por acordo amigável, desde que seja enquadrada numa possível extinção de posto de trabalho ou despedimento coletivo, e que garante aos trabalhadores o direito ao subsídio de desemprego. Não é o caso do que está a acontecer aqui. De facto, a empresa evidencia isso nos acordos que são assinados, e tem de ser assim, para os trabalhadores garantirem assim o direito ao subsidio de desemprego. Mas a verdade é que a empresa não atravessa, nenhuma fase, em que consiga sequer enquadrar nenhuma situação de qualquer despedimento coletivo, ou extinção de posto de trabalho.
José Eduardo Andrade explica que a empresa está a levar a cabo uma estratégica para “se ver livre” de trabalhadores mais antigos e reivindicativos, que ajudaram a reerguer a empresa da crise deixada pelo patrão anterior, sendo substituída agora por outros trabalhadores mais novos, acrescenta o dirigente sindical:
Ao mesmo tempo, que chamam trabalhadoras para aceitarem uma proposta de rescisão, estão a entrar trabalhadores novos, e a fazer entrevistas para novas contratações. Isto não bate a bota com a perdigota. Julgamos nós que isto é uma forma de rejuvenescer a força de trabalho da empresa de uma forma irresponsável. Ou seja, descartando as pessoas à medida que vão ficando mais velhas, livrando-se também as trabalhadoras mais “reivindicativas”, ativas e lideres de opinião. E ainda atirar para a Segurança Social e para o SNS, aquilo que são as responsabilidades de resolução de problemas das trabalhadoras. Que são problemas de saúde que de facto adquiriram, no trabalho que ali fazem. São trabalhadoras que trabalham há muitos anos, a colher cogumelos, em plataformas elevadas, em que estão a trabalhar com os braços sempre elevados e esticados, para conseguirem alcançar os cogumelos mais distantes. Portanto, quase todas as trabalhadoras têm problemas musculoesqueléticos ao nível dos ombros.
O SINTAB refere que a empresa está a dispensar os trabalhadores que se encontram com problemas musculoesqueléticos devido à falta de condições ergonómicas de trabalho. José Eduardo Andrade ainda destaca que os trabalhadores que estão a ser contratados são cidadãos estrangeiros que se encontram com poucas condições de vida e que se sujeitam:
A maioria dos trabalhadores que entraram recentemente na empresa são trabalhadores estrangeiros, muitos deles, em condições precárias de vida, não só, pelo vínculo laboral, porque precisam de assumir tudo aquilo que lhes impõem para conseguir ter pelo menos o visto de residência, para depois conseguirem alavancar a sua vida daqui para a frente. Isto é um aproveitar por despedir força de trabalho reivindicativa para depois, contratar força de trabalho não reivindicativa.
Ainda acrescenta que a empresa não está sequer a apresentar valores que os trabalhadores teriam direito na eventualidade de um despedimento coletivo ou extinção do posto de trabalho:
A oferta que a empresa está a fazer neste momento, é até ligeiramente inferior àquilo que os trabalhadores têm direito se de facto, a empresa avançasse com um despedimento coletivo, ou extinção de posto de trabalho. Por isso é que nós entendemos que isto é uma forma de a empresa poluindo o pensamento dos trabalhadores, dando-lhe a entender que o futuro será negro, forçando as trabalhadoras a aceitarem um acordo, porque depois acabam por terem garantindo o subsidio de desemprego.
Sabemos que apenas duas trabalhadoras mais antigas não aceitaram este acordo de rescisão do posto de trabalho.
A Rádio ONDA LIVRE tentou por diversas vezes entrar em contacto com a empresa para pedir esclarecimentos, mas nunca foi possível chegar à fala com nenhum responsável. Mas contudo fizemos um pedido por escrito, do qual aguardamos resposta.
Escrito por Rádio ONDA LIVRE
Foto: Cuga