O CITAB – Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas da UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) recentemente, conseguiu registar uma patente europeia, que está disponível, em 18 países, referente ao processo de envelhecimento de vinho com engaços de uva como alternativa ecológica, como explica, a investigadora Ana Barros:
“Aquilo que nós fizemos foi utilizar um subproduto da indústria vitivinícola, que foi o engaço. Promovemos a tosta tal e qual é feita, a tosta da madeira de carvalho, leve, média e intensa numa mufla. E aquilo que fizemos foi simular o envelhecimento em cubas de inox de 30 litros, onde adicionamos esse engaço. E aquilo que verificamos foi que temos vinho com as mesmas características que um vinho envelhecido com estas alternativas da madeira”.
A maior vantagem está relacionada com a sustentabilidade, uma vez que anualmente a indústria vitivinícola produz grandes quantidades de engaço, que não tem qualquer valor comercial, podendo causar potenciais problemas ambientais e comprometer desta forma a sustentabilidade económica e a competitividade destas indústrias:
“Vai-se dar um valor acrescentado a algo que até ao momento não tem valor, muitas vezes é utilizado para a compostagem, para a alimentação animal. O engaço não tem um fim que seja claramente evidente em termos de aproveitamento, é considerado mesmo um desperdício. Nós vamos estar a dar um valor acrescentado, entramos com o conceito de sustentabilidade, entramos com o conceito de economia circular, porque vamos valorizar algo que não tem valor e por outro lado, vamos também não ter a necessidade de estar a utilizar as aduelas ou aparas ou chips que são os alternativos da madeira que são extremamente dispendiosos e então nós estamos aqui a ter uma rentabilidade muito grande”.
A também professora da UTAD explica como poderá realizado este processo:
“Porque se utiliza o engaço como um todo. Não é preciso extrair qualquer tipo de composto, não é preciso fazer qualquer tipo de tratamento ao material, é apenas utilizar o engaço seco, depois utiliza-se uma simulação do processo de tosta que é feito na madeira de carvalho, que neste caso foi empiricamente feito numa mufla, que depois sendo adquirida a patente pode ser feito de uma forma mais rigorosa. Controlando a temperatura e o tempo de tosta. Mas de facto aquilo que nós conseguimos verificar é que os compostos que são expectáveis de se formar ao longo do envelhecimento do vinho com a utilização das alternativas da madeira de carvalho, também nós conseguimos verificar utilizando estes produtos tostados do engaço e por isso é uma mais-valia porque adquirimos aromas a baunilha ou aromas adquiridos naturalmente do vinho, que podem ser adquiridos só quando são envelhecidos, nas próprias barricas de carvalho francesas. Neste caso, nós conseguimos simular aquilo que acontece através da adição do engaço sofrendo um processo de tosta similar”.
Os inventores da patente são o enólogo, João Pissarra e as investigadoras Ana Barros e Irene Gouvinhas. A patente foi concedida, através da investigação científica deste processo no vinho “Dona Matilde”, com a assinatura deste enólogo. A patente foi submetida em 2019, numa investigação que tem decorrido desde 2014. Agora a patente está disponível para a produção vínica, em 18 países, como Portugal, Itália, Finlândia, França, Espanha, entre muitos outros.
O CITAB – Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas é uma unidade de I&D composta por uma equipa de 254 investigadores e bolseiros, em várias áreas como a biologia, química, engenharia alimentar.
Escrito por Rádio ONDA LIVRE
Jornalista: Maria João Canadas