A freguesia de Grijó tem cerca de 35 hectares protegidos para a criação e desenvolvimento de corços.
Em 1998 o cercado estava pronto mas surgiram alguns contratempos que impediram a continuação do projeto.
Em 2007 várias portas se abriram e a tutela cedeu duas fêmeas o que desencadeou o arranque do Cercado de Corços de Grijó.
O presidente da Associação de Caçadores de Grijó e Vilar do Monte, Raúl Fernandes, explica como este projeto se foi desenvolvendo ao longo dos anos.
“Este cercado está concluído desde finais de 1998, esteve parado porque não nos foi concedido o alvará, nem nos foi permitida a importação de corços, também não houve cedência de corços por parte da tutela para se poder iniciar a reprodução em cativeiro. Só em 2007 é que conseguimos alguma abertura por parte da tutela e aí sim foi nos concedido o alvará, realizamos um protocolo com a Autoridade Florestal Nacional. Houve um emprenhamento forte por parte do diretor regional, Rogério Rodrigues que fez força junto do ministério da agricultura e desbloqueou a situação. Ao abrigo do protocolo, permitia a cedência de 12 animais para introduzirmos no cercado, foram-nos cedidas (desde 2007 até agora) duas fêmeas. Aquilo que muitas vezes nós não conseguimos fazer, ou porque não queremos, ou porque não sabemos pegar, a própria natureza se encarrega disso. O macho apareceu dentro do cercado, não sabemos como, só damos pela presença dele em Julho de 2010 e nesse mesmo ano conseguimos começar a recolher imagens em vídeo da primeira cria dentro do cercado, no dia 1 de Setembro de 2010.”
O investimento no cercado rondou os 50 mil euros.
A associação contou com a ajuda de várias instituições a quem Raúl Fernandes agradece.
“O investimento ultrapassou os 50 mil euros, isto em 2007/2008, foi o período em que decorreu o projeto. Nós gostamos de valorizar as pessoas que nos apoiam, aqueles que tem um trabalho feito que contribui para que isto seja uma realidade, desde a Câmara que tem apoiado, a Federação que foi incansável para que este projeto fosse para a frente. Alguns elementos que participaram nisso, nomeadamente o Agostinho Bessa e o Ricardo que foram dois obreiros dos trabalhos de final de licenciatura que aqui se realizaram e que deram origem a este projeto. Quero agradecer também à DESTEQ, particularmente à Aurora Ribeiro que foi incansável na dinamização e na divulgação deste projeto. Fomos valorizando gradualmente porque o projeto não nasceu nos 50 mil euros, nasceu num valor mais baixo e nós fomos acrescentando-lhe algo para valorizar e conseguimos levá-lo aos 50 mil euros.”
O vereador da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, Carlos Barroso, esteve presente e congratulou todos os envolvidos neste projeto.
Carlos Barroso garante que o apoio do município vai continuar.
“Este projeto é muito interessante porque tem duas valências muito importantes para a Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros. Primeiro a preservação da biodiversidade que existe no nosso concelho, é uma das coisas que nós temos procurado fazer e dinamizar. Tenho que dar os parabéns à Associação de Caçadores de Grijó e Vilar do Monte pelo trabalho que fizeram no Cercado dos Corços e depois também porque está no setor da caça, devidamente enquadrada com a atividade turística. Este é um trabalho de formiga que começa hoje, depois de seis anos, a colher os seus frutos. Tenho que endereçar os parabéns a quem aqui no dia-a-dia trabalhou sem resultados aparentes e que agora começa a ver a compensação do seu trabalho. Temos aqui uma universidade de referência na região e a nível nacional, a UTAD, nesta área principalmente e está interessada cientificamente neste cercado. Isto revela-nos que existem ações que podem, a curto prazo, parecer que não nos dão frutos mas a longo prazo são se calhar aquelas que mais nos satisfazem.”
A professora da UTAD, Aurora Monzon, há muito que trabalha em conjunto com o Cercado de Corços de Grijó.
A docente afirma que este cercado tem todas as condições para ser um grande projeto.
“No ano passado iniciamos aqui um projeto de fim de curso e decidimos dar continuidade. Há muito tempo que conheço o Sr. Raúl, já conheço esta zona de caça e sempre que nos é possível gostamos de dar o nosso contributo científico para ajudar a melhorar este tipo de projetos. Neste momento outro aluno vai dar continuidade ao trabalho do Samuel, o Armando, estreou-se esta semana com este trabalho. O cercado tem uma vantagem, permite-nos colocar uma série de infraestruturas que dificilmente poderíamos colocar no campo. É um sítio ótimo para que um aluno faça a sua investigação. A qualidade do habitat é ótima, a localização também porque tem tranquilidade, mesmo a nível no coberto vegetal tem bastante variedade o que é ótimo para o corço. Tem água, tem acessos relativamente bons para se chegar lá e tem uma superfície útil bastante grande.”
Paulo Cortez, professor na Escola Superior Agrária Bragança, afirma que este cercado tem grandes potencialidades económicas a explorar.
“Está bem localizada, é uma área que só por si é interessante. Tem potencial para dar mais do que o que tem dado, está claramente em fase de crescimento. Cada vez mais este tipo de atividade deve ser entendido como uma mais-valia económica. Isto deve ser gerido no sentido de poderem extrair mais rendimento e sobretudo um rendimento alternativo do que aquilo que tem sido. À medida que todos forem trabalhando em conjunto e vá havendo uma pressão maior no sentido da forma como são aproveitados estes recursos, talvez comece a ser um bocadinho diferente mais interessante se torna este tipo de recursos também. Se nós podermos rentabiliza-los de outro modo, as pessoas começam a olhar para eles de outra forma. Há aqui um enorme potencial, aqui e em outras áreas da região, nós temos que começar a aproveita-lo de uma forma mais consciente e racional, não apenas pensar que é um animal bonito que está por ai, que não se pode aproveitar. Não se pode pensar só o extremo, isto tem que ser tudo aproveitado porque é interessante do ponto de vista económico, mas de facto esse interesse económico existe e compete-nos a nós aproveita-lo e utiliza-lo de forma racional.”
Atualmente o cercado têm sete corços.
Ontem à tarde, vários alunos da UTAD deslocaram-se ao cercado para fazer a contagem dos corços existentes neste cercado e procederam também à instalação de seis câmaras para captar a vida dos corços.
Escrito por Onda Livre