“Atitudes dos familiares visitantes do doente dependente face ao abandono nas Unidades de Cuidados Continuados”.
É o nome da dissertação de mestrado de Ana Margarida Martins apresentado no Instituto Piaget de Macedo de Cavaleiros.
O estudo para a elaboração da tese foi realizado na Unidade de Cuidados Continuados de Murça.
Licenciada em Sociologia, Ana Martins explica qual é o objetivo das Unidades de Cuidados Continuados.
“Reabilitar, reinserir e readaptar as pessoas. Quando as pessoas têm problemas de saúde, vão para um hospital tratam o problema e tem alta mas se for preciso reabilitação, por exemplo, fisioterapia ou terapia da fala, vão para estas unidades onde são reabilitadas e posteriormente são reinseridas na sociedade. Não é para curar é para reabilitar. É autonomia vs dependência, ou seja, quando as pessoas entram nestas unidades vão com a autonomia debilitada, estão dependentes e é precisamente esse o objetivo das unidades é reintegrá-los readaptando-os nos problemas que possam vir a ter recorrentes de problemas de saúde que já passaram pelos hospitais normais.”
A amostra deste estudo recaiu sobre 35 familiares dos doentes internados nessa unidade.
A estudante fala das respostas que obteve.
“A minha amostra foi: todos os familiares visitantes possíveis inquirir. Quando fiz um perfil do doente dependente percebi que maioritariamente eram pessoas acima dos 80 anos mas isso não quer dizer que seja assim em todas as unidades, isto também para desmistificar que estas unidades são só para pessoas idosas, não é assim. Como os meus inquiridos eram os familiares visitantes, havia pessoas que nunca recebiam visitas mas essas situações não as pude incluir no meu estudo, não havia maneira de entrar em contacto com elas. Se eu conseguisse chegar à fala com os familiares desses doentes que nunca recebiam visitas, talvez por telefone, o resultado do estudo poderia ser diferente. Elaborei uma escala de atitudes para perceber até que ponto as atitudes dos familiares visitantes revelavam ou não abandono e é óbvio que muitas pessoas respondem o que é politicamente correto e não a realidade. Se eu perguntar se faz muitas visitas ao doente depende respondem-me “faço algumas, duas vezes por mês” e talvez só faça duas por ano na realidade. Eu reparei que havia uma tendência para responder o que era esperado, foram poucas as pessoas que eu acredito que responderam verdadeiramente. Depois das atitudes neutras, que eram as que estavam em maioria, vieram as positivas e por fim as negativas o que é bastante positivo nesta fase e no tempo que estamos a viver. Talvez seja por questões culturais ou por questões de interioridade porque se fizesse uma comparação com uma unidade de cuidados continuados de uma cidade do litoral ou de uma cidade muito grande os resultados poderiam ser diferentes.”
Ana Martins chegou à conclusão que neste momento ainda não existe um número elevado de abandono dos doentes na unidade onde elaborou o estudo.
“Eu já ia com uma ideia, à partida, de que houvessem alguns casos de abandono no entanto depois de ter chegado ao final do estudo percebi que neste contexto especifico ainda não é isso que se verifica nesta unidade. O que não significa que daqui a 5 ou 10 anos, fazendo uma comparação, se calhar com as mesmas pessoas já haveria resultados completamente diferentes até pela situação atual que de certeza irá piorar ao longo do tempo. Neste momento as principais atitudes foram consideradas neutras o que poderá ser explicado pelo que é politicamente correto, não se querer colar nem ao extremo positivo nem negativo. Neste contexto específico percebi, ao contrário do que eu estava à espera, que as atitudes piores são em menor número do que as melhores atitudes. São vários os fatores que eu pude corelacionar no fim, ou seja, que realmente podem mudar ou não as atitudes no entanto são muito mais aqueles que não tem influencia por isso é que as hipóteses todas formuladas vieram todas afirmadas.”
Conseguir uma maior autonomia da pessoa dependente, centrando-se na sua recuperação global, é a missão das Unidades de Cuidados Continuados.
Escrito por Onda Livre
O meu pai encontra-se neste momento nessa unidade que ainda não conheço presencialmente. Infelizmente, sofreu um AVC e após uma punção lombar realizada no Hospital de Vila Real, ficou paraplégico. A nível cognitivo revela melhorias e sei através de familiares que está a ser bem tratado nesta unidade. Infelizmente todos os seus filhos estão fora de Portugal Continental, mas tentamos que não fique grandes períodos sem que algum de nós esteja presente. Já passaram 3 meses. A nossa sociedade não está preparada para estes casos, mas ninguém sabe o sofrimento que as famílias passam quando têm um ente querido nesta situação e estão tão longe.