Irreverencia e energia inesgotável é com os Caretos de Podence

Irreverencia e energia inesgotável é com os Caretos de Podence

Os caretos são eles, os embaixadores do Carnaval transmontano e que levam esta tradição para todo o mundo.

Ficam umas palavras sobre esta tradição ancestral.

Domingo de Carnaval é dia de feira em Podence, uma aldeia pertencente ao concelho de Macedo de Cavaleiros.

Mas é também nesse dia que logo pela manhã se inicia um dos rituais transmontanos mais interessantes e enigmáticos a assinalar o fim do ciclo de Inverno.

É uma espécie de retoma da festa dos rapazes que tem lugar por alturas do Natal, mas desta vez ligada aos rituais carnavalescos que assinalam o início dos constrangimentos da Quaresma e marcam o renascimento que a aproximação da Primavera representa para quem tira da terra o seu sustento.

Hoje não tanto, pois os rapazes solteiros, que são as figuras centrais deste ritual, ficam até altas horas da madrugada nas discotecas da região e só começam a juntar-se por volta das 10 horas da manhã para iniciarem as tropelias.

Mascaram-se, geralmente com vistosos fatos de franjas de lã de cores garridas, máscaras de lata, enfiadas de chocalhos à cinta e bandoleiras com campainhas e guizos. Atravessam a aldeia e sobem a rua que conduz à feira, entretanto montada ao longo da estrada para Macedo [de Cavaleiros]. Avançam em grande algazarra acentuada pelo marulhar dos guizos e campainhas, correndo atrás das raparigas e atacando os homens com um movimento das ancas que transforma as bandoleiras de guizos em chicotes.

A função desta mascarada, em que os rapazes desempenham o papel de demónios à solta, é precisamente a de representar o caos e a desordem, o inverso dos valores dominantes na comunidade. Representam o espírito do mal mas, neste curto interlúdio anual, gozam de total impunidade.

Apenas falam por berros ininteligíveis ou para recitar loas e comédias em que dão conta do que mais caricato, brejeiro ou condenável aconteceu na povoação ao longo do último ano. Nestes arrazoados, chamam as coisas pelo nome, e os temas mais comuns são os casos de infidelidade conjugal e a leviandade desta ou daquela moça da aldeia que maistenha dado nas vistas. Amiúde as descrições são pormenorizadas e contadas com gestos expressivos. Também podem bater, as mais das vezes simbolicamente – por vezes esquecem o simbolismo e ajustam contas antigas.

A origem deste ritual, claramente pagão, remonta à noite dos tempos, tempos muito anteriores ao cristianismo. Mas foram-se adaptando ao evoluir dos tempos, embora sem perderem o simbolismo de uma prática daquilo que é o comportamento proibido ao longo de todo o ano, e apenas tolerado quando os mancebos celebram simultaneamente o início de mais um ciclo de rejuvenescimento da terra, a sua ascensão ao estatuto de homem solteiro, com o advento da puberdade e a concomitante apresentação ao sexo feminino.

Mas se o ritual é muito antigo, a sua divulgação é relativamente recente. Só a partir dos finais dos anos 60 os etnógrafos começaram a debruçar-se mais profundamente sobre este ritos carnavalescos tão característicos da região transmontana.

Hoje o valor da festa em cada aldeia quase de mede pelo número de fotógrafos e visitantes eruditos que aparecem para assistir aos rituais.

Escrito por ONDA LIVRE 

 

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