O presidente da Associação de Beneficiários de Macedo de Cavaleiros diz que o subaproveitamento do regadio deve-se em parte à falta de apoio para escoar as produções agrícolas do concelho.
Um trabalho que Hélder Fernandes considera ser da responsabilidade das associações locais , e deixou ficar um desafio ao município.
“Acho que o município tem aqui um papel importante no sentido de reunir vontades, as associações e os agricultores para intermediar este processo e que comece a criar condições no concelho, mais concretamente na zona do perímetro de rega, para que se comecem a produzir outro tipo de produtos que tenham valor acrescentado e que possam ser transformados, assim como a criação de marcas e de uma preocupação grande para a exportação e para o mercado. Isso praticamente não existe porque se esse trabalho não for feito localmente, muito dificilmente as pessoas se colocam a produzir algo e à partida estão já condenadas porque não escoam o que produzem.”
Em 2018, Hélder Fernandes estima que o regadio abranja os 700 hectares no concelho, uma área que supera em grande escala a alcançada este ano.
Mas ainda há muito trabalho a fazer pelo regadio, nomeadamente no que respeita às condições das estruturas que precisam ser modernizadas e à sensibilização e esclarecimento dos agricultores para esta questão. E nesse sentido, a associação de beneficiários já tem planos para implementar a partir do próximo ano.
“Nós fizemos um projeto que melhoraria o regadio mas veio aprovado sem dotação orçamental. Debatemos-nos continuadamente para conseguir apoios para o regadio, que, embora esteja em pleno funcionamento, há investimento necessários para essa modernização e garantir a sustentabilidade futura mas, para isso, são necessárias outras dinâmicas que despertem para o uso da água.
Em 2018 vamos fazer sessões de esclarecimento nas aldeias, a Associação de Beneficiários está a pensar também em criar alguma dinâmica no sentido de esclarecer os agricultores e até, possivelmente, fazer instalações destes sistemas. Essas sessões vão ser feitas antes do período de rega para as pessoas terem alguma atenção e verem quais as vantagens efetivas do regadio. ”
Benjamim Rodrigues, presidente do município de Macedo de Cavaleiros, considera que poderia haver uma maior adesão ao regadio se houvesse uma maior racionalização dos terrenos agrícolas e, para isso, reforça a necessidade de sensibilizar os agricultores.
“Realmente o regadio não tem sido devidamente aproveitado, da zona que nós temos e que é potencialmente regável, pouca gente adere e, é óbvio que isto seria mais fácil se tivéssemos um emparcelamento e racionalização das terras e dos meios.
Isto tira um pouco os nossos direitos reivindicativos de exigir a expansão do regadio quando o potencial que temos anda nos 12% ou 13 % o que é manifestamente pouco e muito deficitária.
Neste momento, temos de organizar campanhas de mentalização de adesão das pessoas ao regadio, vou continuar a lutar pela expansão tanto para a zona nascente como poente.”
Quanto à colaboração das associações para aumento do escoamento dos produtos agrícolas, Benjamim Rodrigues diz que o papel das cooperativas é fundamental assim como o do município.
“Obviamente que isto envolve muitos parceiros.
A produção é muito importante e para ter capacidade de escoamento é necessário o trabalho das cooperativas que tem de ser canais de escoamento, sem o qual o produtor não se vê incentivado nem motivado para produzir mais e, consequentemente, não precisa de rega.
Se conseguirem vender vai haver uma maior adesão ao regadio e ai vão conseguir justificar essa expansão.
Há muito trabalho a fazer. O município é um facilitador mas também pode ajudar nas negociações.
Vamos procurar efetuar workshops, seminários na área do empreendedorismo e, assim, trazer soluções para canalizar os produtos.”
Declarações à margem do Workshop “Aproveitamento Hidroagrícola de Macedo de Cavaleiros” que aconteceu terça-feira e juntou vários oradores para debaterem esta questão.
Também presente esteve Pedro Teixeira, Diretor Nacional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, que concorda que há muito a fazer pelo regadio no concelho, estrutura esta que, segundo ele, é uma mais-valia para o desenvolvimento rural e aumento dos rendimentos das populações.
“Sem dúvida que há imenso trabalho a fazer no regadio e que eu considero ser uma mais-valia incontestável, principalmente no momento de seca que atravessamos.
Diversificar as culturas e melhorar o rendimento das pessoas é o que queremos, viver com as nossas famílias confortavelmente e promover o desenvolvimento rural que, afinal de contas, é um elemento incontornável principalmente num pais mediterrâneo. “
O aproveitamento do regadio proveniente da Albufeira do Azibo em debate entre agricultores e conhecedores da realidade atual.
Escrito por ONDA LIVRE