As crianças e jovens do distrito de Bragança vão ficar sem qualquer apoio público na área da saúde mental durante algum tempo

As crianças e jovens do distrito de Bragança vão ficar sem qualquer apoio público na área da saúde mental durante algum tempo

As crianças e jovens do distrito de Bragança vão ficar, a curto prazo, sem qualquer apoio público na área da saúde mental, devido à aposentação da única pedopsiquiatra da Unidade Local de Saúde do Nordeste.
O alerta foi deixado pela própria especialista, na passada sexta-feira, em Mirandela, durante um seminário sobre saúde mental e interioridade.

Elisa Vieira, a única pedopsiquiatra do SNS no distrito, começa por lembrar que o Plano Nacional de Saúde Mental, desde 2004, recomenda uma equipa com 11 profissionais de diferentes valências ligadas à especialidade, mas em Bragança, sempre funcionou apenas com uma pedopsiquiatra, uma psicóloga e uma assistente social, ambas a meio tempo.

“Nunca tive uma equipa multidisciplinar porque não há técnicos e os que tenho são muito reduzidos. Fazemos o que podemos e o que não podemos, muitas vezes vamos nas nossa s viaturas fazer abordagens familiares a casa dos utentes porque não temos assistente social própria, a que temos é partilhada com a psiquiatria. Isto é complicado porque não conseguimos seguir o plano de saúde mental. Desde 2004, altura em que saiu o primeiro plano para o distrito de Bragança, que nunca houve preocupação de aumentar o número de técnicos.”

Perante este cenário, e tendo em conta que, brevemente, a pedopsiquiatra vai aposentar-se, Elisa Vieira vai avisando que as crianças e jovens do distrito de Bragança vão ficar sem qualquer apoio público na saúde mental.

“Esta valência vai ficar a descoberto. Há carências em termos de técnicos diferenciados no interior e não é só em Bragança. Os grandes centros têm conseguido conter os poucos especialistas que existem nesta área.”

E para se perceber a dimensão do problema, basta dizer que Elisa Vieira tem mais de mil crianças e jovens dos 12 concelhos do distrito de Bragança, que agora vão ficar desprotegidos.
A pedopsiquiatra diz que já começou a encaminhar alguns casos, mas admite que a situação vai ficar muito difícil para as famílias desta região.

“Tenho estado a reencaminhar os utentes que estão a atingir a maioridade para os colegas de psiquiatria, os outros, abaixo dos 18 anos, terão de ser encaminhados para Vila Real ou até para o Porto, pois são as cidades mais próximas onde há serviço de Pedopsiquiatria.

Isto é muito complicado porque esta crise económica está cada vez pior. No que toca aos transportes, existem camionetas de manhã e à tarde, mas se, por acaso, as perderem, já vai acrescer nos custos também. Depois existem aquelas terapias que, por vezes, se fazem de 15 em 15 dias, ou até mesmo semanalmente, e que se tornam insuportáveis.”

Elisa Vieira lamenta que a saúde mental infanto-juvenil tenha sido sempre muito incompreendida pelo poder político.

“Eu acho que, mesmo a nível de políticas, é uma área um pouco incompreendida pois enquanto que o adulto vai ao psiquiatra e é visto por ele, no caso da psiquiatria da infância e da adolescência, a criança não se pode deslocar à consulta sozinha, leva os pais e muitas vezes também os professores, e nós também temos de os ouvir.”

Confrontado com esta preocupação, o presidente do conselho de administração da ULS do Nordeste não quis falar à comunicação social.
No entanto, no discurso na sessão de encerramento do seminário Carlos Vaz reconheceu que a saúde mental “sempre foi o parente pobre da saúde”, mas preferiu realçar que, apesar das dificuldades em conseguiu atrair especialistas, tinha acabado de receber a notícia da contratação de mais três médicos de
família.

INFORMAÇÃO CIR (Terra Quente FM)

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