Contabilista de Chaves suspeita de ser o “cérebro” de fraude de 2,5 milhões de euros na obtenção de fundos europeus

O esquema funcionava em dois grupos com laços familiares. Segundo o Jornal de Notícias, também está envolvido o marido da contabilista, atual diretor distrital de Finanças de Vila Real, e um cunhado que era gestor da Associação para o Desenvolvimento Regional do Alto Tâmega, uma entidade fiscalizadora da atribuição de fundos. São três dos 31 arguidos individuais constituídos no âmbito da operação “Chave Mestra”.

O diretor da Polícia Judiciária do Porto, Norberto Martins, descreve que a contabilista, com cerca de 50 anos, com escritório em Chaves, seria o cérebro da operação, que resultou numa fraude de 2,5 milhões de euros:

“Trata-se de uma pessoa particular, com um gabinete de contabilidade que, por isso, tinha facilidade em aceder aos mecanismos e procedimentos para obtenção de subsídios para investimentos em turismo rural, restauração, bares, catering, aquisição e modernização de equipamentos para gabinetes de contabilidade.

Ela sabia como funcionavam, quais as exigência e requisitos para obter esses fundos e, conjuntamente com outras pessoas das suas relações familiares, candidatou-se e obteve diversos subsídios.”

O diretor da PJ do Porto explica ainda que o esquema envolvia faturas com valores muito acima dos preços normais de mercado:

“As faturas eram sobrevalorizadas, conseguiam receber desses fundos quantias que manifestamente não correspondiam ao valor das obras, das reparações e das melhorias feitas nos diversos projetos, e evidentemente que essa diferença entre o que custavam os bens ou as melhorias, e o que era disponibilizado pelos fundos europeus, era dividido por esta arguida, pelos candidatos a estes fundos e também pelas empresas que passavam faturas excedendo largamente, em alguns casos, o valor dos objectos ou das intervenções.

Em alguns casos havia também atividades relativas a projetos que nunca saíram do papel e houve capacidade, por parte destes arguidos, de forjarem faturas e contratos.”

A PJ realizou ontem 70 buscas, 35 delas domiciliárias e as restantes em sedes de empresas na região Norte e constituiu 51 arguidos: 31 indivíduos e 20 pessoas coletivas.

As buscas, domiciliárias e não domiciliárias, decorreram em Chaves, Vila Real, Barcelos, Braga, Vila Nova de Famalicão, Maia, Fafe, Porto e Figueira da Foz.

Nas buscas participaram também um magistrado judicial e outro do Ministério Público. Na ação foram apreendidos vários milhares de euros em dinheiro vivo.

Os factos decorreram entre 2009 e 2013 e houve uma primeira investigação desencadeada em 2014, mas só em 2018 foi direcionada para esta finalidade.

INFORMAÇÃO CIR (Rádio Ansiães)