Afinal não foram razões profissionais que levaram a ex-vereadora e vice-presidente da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, Elsa Escobar, a demitir-se do executivo municipal, há exatamente dois meses (28 de setembro).
Numa carta dirigida ao presidente da câmara, e agora feita chegar, pela própria, aos vereadores do executivo, a eleita demissionária justifica a sua saída com a “reiterada ausência de valores que considera essenciais ao funcionamento de uma equipa e a um bom desempenho profissional” referindo-se, nomeadamente, ao “respeito pelo outro, confiança e lealdade”, acrescentando ainda que não considerou possível continuar a exercer o mandato “sem renunciar à dignidade”.
A questão foi levantada na última reunião de câmara pública pelo vereador da oposição Carlos Barroso, que leu o excerto da carta em que Elsa Escobar expõe os motivos da demissão. O membro do executivo diz não entender o porquê de o presidente não ter dado a verdadeira explicação na altura certa e aconselha-o a rever a forma como está a fazer a gestão da equipa:
“Houve explicações que nos foram dadas e que não foram exatamente aquilo que se passou. Não teria havido qualquer problema de, na altura, ter dito a verdade dos factos.
A senhora vereadora que se demitiu refere aqui que não renunciou ao mandato por motivos profissionais, remetendo, tal como tinha já feito o seu anterior vice-presidente, para questões de lealdade e gestão de equipa. Claro que não há problema nenhum em haver divergências entre equipas, no entanto, a falta de lealdade e de espírito de equipa é preocupante quando estamos a falar de um executivo municipal, e mais preocupante se torna quando não é só uma pessoa, pois já são duas.Acho que o sr. presidente deveria reflectir, ponderar e ver como faz a gestão da sua equipa, pois numa equipa em que todos estejam a desconfiar uns dos outros, não se consegue desenvolver um trabalho que leve os destinos do município a bom porto.”
Também o vereador da oposição e ex- presidente da câmara, Duarte Moreno, acusa o presidente de ter faltado à verdade na explicação que deu ao executivo aquando da saída de Elsa Escobar:
“Quando o senhor presidente nos explica que a senhora vereadora tinha todo o interesse em ir novamente dar aulas por ser aquilo que ela gostava, faltou à verdade neste órgão porque a carta que ela lhe enviou não é o que diz. Era isso que nós gostaríamos de ter ouvido da sua parte na altura e hoje não estaríamos aqui a discutir isso.
Provavelmente por isso é que a senhora vereadora enviou um mail para todos nós, com o vosso conhecimento, a dizer precisamente as razões que a levaram a renunciar. “
Pedro Mascarenhas, que se mantém como vereador do PS mas que, recordo, no início de janeiro renunciou aos pelouros que detinha, diz lamentar “que as pessoas sejam tratadas desta forma pelo presidente”:
“Eu acho que a senhora vereadora reagiu agora àquilo que leu e considerou não ser a verdade. Como tal, acho que tem o direito de repor a verdade, neste momento que foi para ela o possível visto estar fora.
Mais uma vez digo que lamento que as pessoas sejam tratadas desta forma pelo senhor presidente. Elas saem e o assunto não morre porque são questões que têm de ser tratadas com dignidade.Quando eu saí, e quando o sr. vereador Carlos Barroso leu o que eu justifiquei, disse que ou era grave o que eu dizia ou eu era uma assassino de carácter. Como vêem, não sou só eu que o digo.”
Em resposta, Benjamim Rodrigues diz tratarem-se de insinuações e que para ele este é um assunto morto:
“A equipa acabou por não ter toda a gente, é verdade, mas ela não é composta apenas por quatro vereadores.
Quanto aos princípios e ao que aí é insinuado, eu agora quero que a seriedade seja posta em causa em função de tudo aquilo que eu vivi nesta cidade e o que a ela dediquei. Acima de tudo seriedade, confiança e lealdade são valores que sempre tive e é assim que vai ser pautada esta governação.A explicação que me foi dada e mais credível foi aquela que eu mencionei e não tenho mais nada a dizer. Agora se há, realmente, outros motivos, acho que se devia ter tido a coragem na altura de o fazer e não esperar para dois meses depois vir fazer insinuações.Nunca digam que eu faltei à verdade pois o que eu digo é exatamente o que aconteceu.Portanto, este é um assunto, à partida, morto.”
Contactada, Elsa Escobar não quis prestar declarações gravadas, mas confirmou ter enviado agora aos vereadores uma cópia da carta de renúncia, entregue ao presidente no dia 28 de setembro, e que em nenhuma passagem da mesma há qualquer referência a uma suposta intenção de regressar ao ensino.
Escrito por ONDA LIVRE