Em tudo os efeitos colaterais da pandemia têm deixado o rasto, e a arte não é exceção.
Por Macedo de Cavaleiros, uma das provas disso foi o fecho do Estúdio de Dança Hopper’z, da instrutora Sandra Batista, que ao fim de três anos com o espaço aberto viu-se obrigada a bater com a porta a um sonho que já soma 15 anos, ensinando crianças e participando em competições nacionais.
O estilo predominante era o hip-hop, vertente na qual competiam, mas também tinha dança africana e ritmos latinos.
Sandra conta que, mesmo antes de a Covid-19 chegar a Portugal, optou pelas aulas online, mas os encargos só permitiram manter a escola aberta até junho:
“Em fevereiro, quando se falou da pandemia, resolvi começar logo por aulas online.
Como no ato de inscrição existe um regulamento que não abrange pandemias, visto ser algo nunca imaginamos que iria acontecer, só cerca de 20 alunos é que aderiram.
Com seguros das crianças, direitos de utilização de músicas e outros encargos, conseguimos aguentar até junho, mas como a situação não estava a melhorar e que a escola é direcionada essencialmente para crianças, não querendo colocar em risco a saúde delas, optei por encerrar escola devido ao contexto que vivemos agora.”
De forma a manter os alunos com alguma atividade, Sandra Batista tem publicado alguns vídeos na internet para que possam reproduzir as coreografias, sem qualquer contrapartida monetária.
No entanto, assim que a situação melhor, a intenção é de retomar a atividade com o grupo:
“Quando comecei, aluguei um espaço do município, só depois é que abri o meu próprio estúdio. Com a pandemia vamos ter de voltar à estaca zero.
Mas tendo o apoio dos alunos, com quem ainda contacto, a vontade de todos é voltara estar e a dançar juntos.A ideia é voltarmos quando passar a pandemia, nem que seja necessário alugar uma sala, e depois criarmos novamente o nosso espaço. Aos poucos haveremos de conseguir.”
Sandra nunca quis converter a escola numa associação, pela independência que isso lhes confere.
No entanto, defende que deveria haver alguma ajuda, mais local, para a arte, e propõe a criação de uma rede:
“Acho que todos ficaríamos a ganhar se, por exemplo, para todas as pessoas que queiram inovar na zona, fosse criada uma parceria com base em contrapropostas, nós utilizaríamos um espaço de forma gratuita, por exemplo, e sempre que houvesse um evento participávamos. Acho que isso seria muito interessante, não só a nível da dança como também das outras artes. Seria um apoio, com a criação de uma rede em que todos colaborássemos para melhorar a cultura da nossa zona.
Penso que sempre deveria ter existido algo do género, passando informação, que é aquilo que, de certa forma, até estou a criar neste momento com pessoas que nem são do município de Macedo, na qual todos trabalhamos em prol da cultura.Os apoios deveriam ser também voltados para a parte cultural porque temos muitos jovens na nossa zona que são grandes artistas e já mostraram isso.”
Foi nesse sentido que surgiu o projeto TOMGVNG, composto por 11 artistas transmontanos ligados às quatro vertentes do hip-hop, que através da entreajuda querem fazer mais pela arte na região.
O mentor do projeto é o rapper brigantino MK Nocivo, que explica mais sobre o que está a ser desenvolvido:
“Temos rappers, djs, produtores, pessoal do graffiti e da dança. A ideia é promovermos o nosso próprio trabalho, visto que o mercado musical e cultural está cada vez mais fechado, sobretudo para quem está fora dos grandes meios, nomeadamente Porto e Lisboa.
Devido a essa falta de apoios e promoção para a nossa arte, decidimos criar um grupo e fazermos uma auto-promoção, em que cada um ajuda os outros nas respetivas áreas.
Por exemplo, se tiverem projetos individuais que faça sentido promover e tenha a ver com os nossos objetivos, teremos todo o gosto em partilhar, pois dessa forma também há sempre mais público alcançado.”
A ideia é lançar um álbum ou EP e, mais tarde, promover um festival 100% transmontano, que vai envolver várias vertentes artísticas:
O primeiro passo, que deu início ao projeto, surgiu no EP “Produto Caseiro” que lancei há pouco tempo e foi criado em quarentena, no qual a primeira faixa, que se chama Estão a Confundir, conta connosco todos juntos mas ainda não foi criado com o nome TOMGVNG.
Resolvemos juntar-nos e estamos já a preparar o primeiro single que vai fazer parte de um álbum ou EP, sem participações, só entre nós.
Numa segunda etapa vamos fazer participações só com artistas transmontanos e numa terceira é que iremos fazer participação geral a nível nacional.
Futuramente pretendemos criar um festival 100% transmontano, no qual vamos ter concerto do nosso grupo e das partes individuais também. Antes do concerto vamos ter, por exemplo, uma sessão de beatbox, durante haverá certamente alguém a fazer grafitti e pessoal a dançar. No final teremos djs set. Também se poderão fazer workshops de dança e pintura, entre outros.
O projeto conta com artistas de Bragança, Mirandela, Vila Real e Macedo de Cavaleiros, com a participação de Sandra Batista.
Estão previstas novidades dos TOMGVNG durante o primeiro trimestre de 2021.
Escrito por ONDA LIVRE