Os efeitos da pandemia estão a criar dificuldades no setor pecuário.
A procura diminuiu e as despesas com a criação dos animais continuam.
João de Deus Pires é criador de bovinos e ovinos na aldeia de Morais, em Macedo de Cavaleiros, e conta que não tem sido fácil vender os animais:
“Houve ali uma quebra no primeiro confinamento que fez o preço baixar.
Depois melhorou um pouco, o preço não chegou ao normal mas pelo menos havia escoamento. Agora volto a notar que volta a haver um entupimento a esse respeito.
Normalmente os vitelos saem entre 12 a 15 meses. Assim, acabam por ficar mais tempo e já não dão rendimento. Os vitelos chegam a um ponto que também não têm mais carne, e quanto maior for a carcaça, os compradores mais se aproveitam e mais barato a pagam. Muitas vezes nem as querem.
O que vou ouvindo é que os talhos também não vendem pois o forte deles eram os restaurantes, e como estão fechados, não há consumo da carne.
Depois temos o problema da despesa, a nível das rações cujo preço também subiu.”
Para este produtor, ajudaria ser fossem implementadas políticas para um maior consumo de carne local e até mesmo nacional:
“A carne dos hipermercados não é da nossa zona, vem do estrangeiro ou de outros lados.
Eles não escoam os nossos produtos e nós compramos os deles.Deveria consumir-se mais carne nacional.”
E as pastagens também podem vir a ser afetadas:
“Acho que as fábricas dos adubos não estão a conseguir a matéria-prima. Por isso, vamos ter aqui outro contra grande pois de certeza que os adubos vão ser escassos e vão ficar mais caros.”
A ACRIGA é uma associação de criadores de gado e agricultores, sediada em Macedo de Cavaleiros, que representa 20% da região transmontana.
O Médico Veterinário Coordenador, João Reis, calcula que as quebras nas vendas possam rondar os 50%.
Afirma que do Estado não têm chegado ajudas, e por isso aguardam pela criação de uma estratégia local:
“Propusemos a possibilidade de, através da CIM-TTM, haver uma atuação mais concertada e não tão localizada, uma vez que a quantidade de produtores de um só concelho acaba por ser pequena para se conseguir fazer um trabalho de comercialização. Pensamos que o caminho poderia ser por ai.
Em termos de custos seria mais vantajoso e a comercialização também seria mais fácil com um volume que pudesse satisfazer um pedido mais exigente.Neste momento aguardamos que possa haver algum tipo de abertura nessa matéria.”
O veterinário coordenador da ACRIGA defende que deveria haver apoios para a pecuária de minifúndio:
“Os criadores de Trás-os-Montes são criadores de minifúndio, com os animais a fazer ainda parte integrante da natureza pessoal e familiar. São tratados quase de forma biológica.
Acho que neste momento considera-se muito que toda a produção pecuária é igual e eu acho que há uma falta de apoio para este tipo de exploração, que é fundamental.”
Acredita ainda que a diminuição de animais vai trazer também consequências ambientais:
“A redução do número de caprinos, por exemplo, que é uma espécie que limpa exaustivamente a floresta, e de ovinos, ambos importantes em termos de fertilização, penso que vai trazer consequências a nível ambiental nos próximos anos, e esta é uma questão que me parece esquecida e que deveria ser ponderada nesta fase.”
Contactado sobre o pedido de apoios, o presidente da CIM Terras de Trás-os-Montes, Artur Nunes, respondeu que “a CIM tem feito um trabalho ao nível da pecuária, principalmente em período de pandemia, no escoamento de produtos locais e regionais” nomeadamente com “um estudo para as raças, um projeto de comercialização e internacionalização e a criação da marca Terras de Trás-os-Montes”.
Escrito por ONDA LIVRE