Depois de uma paragem de cinco anos, regressou o Festival Internacional de Música Tradicional, na sua XX edição, que aconteceu na Praça das Eiras, em Macedo de Cavaleiros, nesta sexta-feira e sábado.
A opinião do público divide-se:
Sim estou a gostar bastante, com muitas bandas que são uma boa amostra da música tradicional, que se faz agora. Venho sempre que posso. Não vim a todas as edições mas sempre que posso venho. Mas é um bom recomeço, diz José Monteiro.
Eu sou daqui de Macedo de Cavaleiros e já vi melhor. Os primeiros anos do festival, foram o auge deste festival. Agora já não é o que era antigamente. Lembro-me disto tudo coberto por uma tenda de circo. Foi tudo mudado, as bandas e o público, que antigamente, este espaço estava cheio, nem se cabia aqui, agora, nem metade, contou Jorge G.
Estou a gostar, mas é diferente daquilo que se ouve no Alentejo. Nós quando chegámos, o festival já estava a decorrer. Mas gosto na generalidade do que ouvi. Há alguma diferença para o Alentejo, sobretudo na pronúncia. Mas no País, temos grandes tradições e boa música, destacou João Neves, do Alentejo, que estava de visita a Macedo de Cavaleiros.
Nem gostei, nem desgostei. É a primeira vez que vejo as Ambria Ardena, que me fizeram recordar tempos antigos. Venho quase sempre ao festival. As coisas que elas apresentaram é que não temos assistido como elas apresentaram, contou António André.
Na sexta-feira, subiram ao palco os macadenses Batucada, um grupo que começou na génese em 2011, constituído por Bruno Mazeda e António Malta Gomes, dois alunos da Esproarte de Mirandela, que se juntaram para trazer ao público novas roupagens da música tradicional com gaita-de-foles e eletrónica, como explica Bruno Mazeda:
As expetativas em casa são sempre difíceis, porque não sabemos o que esperar porque estamos a jogar em casa. Ao mesmo tempo, com muita vontade de tocar em casa, mas a duvidar se as pessoas vão gostar. Há uma atenção redobrada em tocar em casa, nesse sentido. Mas estamos super felizes, foi um concerto incrível e as pessoas aderiram. Estiveram connosco e consegui senti-las a cantar. E claro, superou as expetativas que tínhamos, se for por aí.
Bruno Mazeda anuncia que já vão gravar um álbum até ao final do ano e apresentar um novo single:
O próximo single chama-se, posso desvendar aqui, “A Terra onde eu Flori”, que é dedicado às mães, e aos filhos que lutam por ter um futuro nas artes. E que há sempre essa ânsia, em casa, com indicação que esse não é o caminho certo. Porque devíamos estudar para ser engenheiros ou doutores, ou quer que seja…
É uma agradecimento às mães, às nossas especialmente, mas a todas que confiam esse sonho aos filhos, e que às vezes não sabem que sonho é. E que têm algum receio, porque acreditam nos filhos, e é dedicado a elas. Com uma nota autobiográfica.
Outro grupo que atuou na sexta-feira foi os Balklavalhau, que nasceram em 2021 no Porto, numa taberna. Este grupo de 5 elementos, de várias nacionalidades, alemã, polaca, italiana, chilena, e brasileira, fez com que o público, viajasse num expresso transbalcânico, como explica Greta Wardenga:
A primeira sensação é que entramos num filme de Kusturica ou de Bregovic. A primeira referência são estes autores, faz parte das aspirações, mas não só. Gostamos muito de atuar aqui. Foi a primeira vez, em Macedo de Cavaleiros. Nunca sabemos o que esperar, porque temos a consciência que as músicas e as línguas que cantamos não são conhecidas aqui. Foi muito bonito, porque dava para ver que as pessoas, gostavam aplaudiram e as crianças que dançavam na frente, deram-nos muita energia.
A Rosinha, a Graciete, e as bruxas lá da aldeia, estiveram na Praça das Eiras, com as Ambria Ardena, no sábado, também de Macedo de Cavaleiros. O grupo teve início em finais de 2022, com o objetivo de preservar o dialeto transmontano e a cultura, como por exemplo os caretos. Este ano, este grupo esteve com uma digressão muito preenchida tendo percorrido os principais festivais da região, assim como os Bons Sons, de Tomar, um festival de referência de world music.
Para isso, continuam a missão de busca de um reportório ancestral, antigo e passado de geração em geração, de boca em boca que vai culminar com uma gravação para breve, como conta Carla, Germano Lopes:
Estamos a fazer a nossa primeira gravação, e temos planos de lançar vídeos também dessas canções, para haver um registo dessa recolha. Tivemos casa cheia, e estamos super gratas por isso.
A terminar o Festival esteve a Banda CRUA, do Porto que trouxeram ao palco das eiras, a oficina de toque e canto que as fez juntar durante a pandemia, como explica Liliana Abreu:
A simplicidade da música, não no sentido pejorativo, mas num processo positivo, nós queremos trazê-lo, é isso mesmo. De um crivo, de uma peneira, de uma tábua, se faz música, como eu dizia no concerto. De uma tábua de cortar o pão, nós fazemos ritmo. Os ritmos que nós temos aqui são simples por si, e em conjugação e em coletivo foram algo que está num justo lugar.
A experiência em Macedo de Cavaleiros. As pessoas estavam realmente a escutar. E foi super inspirador, ver muitas crianças a dançar à frente, que são aquelas que não têm vergonha. Foi para famílias, foi para gente jovem, mais velha. Sentimos que toda a gente estava e que foi participado, não a cantarem connosco aqui no palco. Mas também a disposição deste lugar, que é em círculo, nos faz estar nesta relação. Que não era eles aqui e nós ali. Nós estávamos todos juntos e fim quando toda a gente se levantou, foi a confirmação daquilo que estávamos a sentir durante o concerto.
O festival terminou com o tema “Ceifa” de Crua juntamente com as Ambria Ardena a cantar à capela.
Para além destas bandas principais, também atuaram o Grupo Cultural e Recreativo da Casa do Povo de Macedo de Cavaleiros, os Pauliteiros de Salselas, Bombos de Ala e Abelhudos.
A organização do festival esteve a cargo do Município de Macedo de Cavaleiros.
Escrito por Rádio ONDA LIVRE