Última “Caminhada dos Elefantes”, em homenagem a Lawrence Anthony

A “Caminhada dos Elefantes” foi a peça de teatro que este sábado, subiu ao palco do Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros, da Companhia Formiga Atómica.

Um espetáculo muito dinâmico que narra a história verídica de Lawrence Anthony, a sua vida dedicada aos elefantes, como ambientalista, em África do Sul. No entanto, quando ele morreu de ataque cardíaco, uma manada de elefantes presta-lhe uma última homenagem, numa caminhada de 12 horas.

Na “Caminhada dos Elefantes” da Formiga Atómica, Lawrence vive no reino do Tula Tula, perto da comunidade dos Zulus. Não se podia falar da morte. O público que era sobretudo constituído por crianças, o público mais sincero, à saída do espetáculo, disseram o que sentiram:

“Não ia contar nada da morte e contou tudo”, disse uma criança espetadora.

“Entendi bem a peça”, acrescentou, com um sorriso de nervoso, por ter um microfone à frente. “Gostei da peça, dos elefantes e do reino do Tula Tula”, contaram à Rádio Onda Livre, os amigos desta criança.

Já Guido e Marlene Ferezini não perdem os apontamentos culturais em Macedo de Cavaleiros. Explicam a sua opinião, numa conversa já descontraída:

As crianças esperavam uma mensagem mais clara, porque foi subjetiva. Uma mensagem muito importante, o trabalho do ator foi maravilhoso, nem tiro o mérito do espetáculo. Mas as crianças esperam algo mais direto.

As crianças hoje em dia, com os telemóveis, tem acesso a tantas informações ainda mais traumáticas, no entanto, o conteúdo poderia ser mais adequado.

Miguel Fragata é o único ator em palco, que numa hora, e num monólogo, nos faz viajar para este universo da selva e de reflexão sobre a vida e a morte. Por isso, explica o processo criativo:

E na verdade este espetáculo, nasce de um desejo muito grande de realizar uma obra, que abrisse um espaço para se conversar sobre este tema tabu, que continua a ser o da morte, e se possível, com adultos e crianças.

Para o construir, mergulhamos numa pesquisa, que fizemos um pouco pelo território nacional, de norte a sul, em vários territórios onde tínhamos teatros parceiros. Para ouvir crianças, entre os 7 e os 10 anos, e as suas ideias sobre a morte, sobre a existência, sobre o que acontece, quando se morre. Sobre as razões que ajudem a compreender e que nos deixe mais pacificado, nesta necessidade da existência da morte. E ouvimos também adultos, numa série de entrevistas, em várias áreas, para compreender aquilo que eles achavam sobre a morte e se correspondia àquilo que elas pensavam.

A peça de teatro já tem 11 anos. Uma obra muito interativa com o público, que também estava no palco, numa comunicação mais direta:

Este espetáculo correu muito bem, e é muito interessante porque quando apresentamos para público em geral familiar, sentimos sempre uma grande tensão pela parte dos adultos, na hora de entrar na sala. Como quem se pergunta, mas que espetáculo é este, e que de forma se vai falar sobre a morte, com as crianças?

No entanto, à medida que o espetáculo vai acontecendo, há sempre um grande movimento de grande desconcentração. A peça tem muito humor com uma grande oscilação entre a seriedade do tema e uma dimensão mais humorística e é sempre com grande interesse que vemos esse descongelar da parte dos adultos. Já nas crianças, há sempre uma grande adesão, ao jogo que o próprio espetáculo propõe.

A próxima atuação será na Ilha Terceira, nos Açores.

A narrativa desta peça de teatro parte de uma história verídica de Lawrence Anthony, que faleceu em 7 de março de 2012 de um ataque cardíaco. De acordo com a reportagem “Lawrence Anthony, Baghdad Zoo Savior, Dies at 61“, de Douglas Martin, do The New York Times, mesmo após a morte de Lawrence Anthony, um rebanho de elefantes continua a visitar a sua casa ao anoitecer, na esperança de que ele retorne.


Escrito por Rádio ONDA LIVRE

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