“A cultura deixou de ter ministério. Qualquer dia, se calhar, estão-nos a mandar apanhar bolas. E é muito triste, muito triste” declaração da atriz Noémia Costa, na sua mais recente passagem por Macedo de Cavaleiros

Este sábado, a peça de teatro “Amigas e Rivais”, que contou com a atuação de Noémia Costa e Rosa do Canto, subiu ao palco do Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros.

Com uma plateia bastante cheia, o palco foi pequeno para as “grandes” atrizes, que chegam todos os dias a casa do público e que nesta peça proporcionaram muitos momentos de humor, criticas constantes ao governo

Quem assistiu, apreciou o espetáculo:

“Gostei muito, porque são muito simpáticas e gosto delas. Vejo todos os dias a novela Herança. Estou sempre a ver novelas”, confessou Maria Moreira, que assistiu na primeira fila à peça de teatro.

“Sim, gostei muito. Já as conhecia como atrizes, mas nunca as tinha visto ao vivo, só na televisão. Mas, adorei”, contou Filomena Sequeira.

“Gostei da peça, muito e é bom que estas iniciativas venham cá para cima, para o norte e que tenhamos um pouco de cultura do que se passa lá me baixo, em Lisboa. E também é bom ver que os mais novos venham assistir, porque é muito bom, porque nos enriquece e é cultura”, destacou Helena Moreira, que veio também acompanhar a mãe.

No final do espetáculo, foram muitas as pessoas que foram pedir autógrafos, tirar fotografias com as atrizes ou até trocar umas palavras e perguntar como acaba a novela que passa agora na televisão.

Noémia Costa confessou que já não vinha a Macedo de Cavaleiros há mais de 30 anos e que é sempre muito bom vir, numa política de descentralização do teatro:

“É fantástico, aliás, eu já venho à Macedo Cavaleiros há uns 30 anos, porque a última peça que trouxe foi com o Camilo de Oliveira, portanto, há mais de 30 anos. Mas o interior do país é isso mesmo e o que nós andamos a fazer é a descentralização do teatro. Vocês recebem muito bem, no norte do país, quando nós dizemos que o público é diferente, é normal, porque é mais empático, não é?

Recebe-nos de uma forma diferente, e são mais efusivos, do que propriamente outros públicos. E nós gostamos imenso de vir.

Estive aqui perto com o Luís Aleluia, com o “Absolutamente fabulosos” em Mirandela e não sei o porquê, é uma zona que eu gosto muito. E quero agradecer imenso ao município, por nos ter trazido aqui, e ter trazido teatro a Macedo Cavaleiros é de louvar”, declarou a atriz.

O texto da peça é de David Búzio, partindo de ideia inédita de Noémia Costa, música e direção musical de Nuno Pires. E conta a história de duas conhecidas atrizes que contam os altos e baixos das suas carreiras. Uma narrativa que pretende transmitir uma mensagem muito clara:

“E a vida de artista não é nada “purpurinada”, tem altos e baixos e há muita coisa que dói e que magoa. E quisemos também explicar passar a mensagem de que os atores mais velhos em Portugal estão a ser descartados, portanto, isso não deve nem pode acontecer. Apresentamos a peça em Lisboa, que teve uma recetividade enorme, precisamente porque está, sem dúvida alguma, muito bem escrita e muito bem musicada. É um original”, enalteceu.

O texto é muito atual porque a arte serve também para alertar as consciências, numa permanente crítica ao panorama social e político de Portugal:

“Há uma crítica social e política, como é normal, porque a arte é para agitar consciências e alertar. E temos que a fazer, como é óbvio, porque se isto fosse realmente um país de sonho, não teríamos absolutamente nada a dizer, mas não é? E cada vez está pior, assim como o mundo.
A cultura deixou de ter ministério. Qualquer dia, se calhar, estão-nos a mandar apanhar bolas. E é muito triste, é muito triste.
Bem sei, que não houve ninguém, até hoje, que tivesse a dignidade de nos dar a carteira profissional, como nos a retiraram a seguir ao 25 de abril.
Portanto, eu era uma miúda, ainda nem sequer era atriz, mas fui me retirada a Estreei-me com 16 anos. Ainda tive um mas depois fui-me retirada. E nunca nos a deram mais.
Há muitos colegas desempregados há muito tempo. E quando um país é governado desta forma, tratam os atores assim, as artes, porque estamos a falar de dança, de teatro, de música, de tudo. Que são postos à margem da lei, somos portugueses de segunda, é realmente triste”, denunciou Noémia Costa.


“Amigas e Rivais”, foi a peça de teatro que subiu ao palco do Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros, e que contou com a atuação de Noémia Costa e de Rosa do Canto.

Escrito por Rádio ONDA LIVRE