Há 5 mil diabéticos por diagnosticar no distrito de Bragança

O número de diabéticos no distrito de Bragança continua a aumentar.

No Dia Mundial da Diabetes, que se assinalou dia 14, sexta-feira, a Associação de Diabéticos do Distrito Bragança (ADDB) organizou uma caminhada e um magusto, em parceria com os alunos da Escola Secundária de Macedo de Cavaleiros.

Margarida Pires, presidente desta organização, refere os números estatísticos – há 17 mil diabéticos no distrito, dos quais 5 mil ainda não estão diagnosticados. No concelho de Macedo de Cavaleiros, serão 2000, dos quais 900 ainda estão por identificar. 

Margarida Pires (MP) – Baseamo-nos na taxa de prevalência a nível nacional. É de 13%, e tem vindo a aumentar.

Aqui no distrito de Bragança, não tem sido melhor, e também tem vindo a aumentar. Estima-se que existam 17 mil diabéticos no distrito de Bragança, dos quais 12 mil já estão diagnosticados, mas 5 mil ainda não estão.

Além de nos preocuparmos com as pessoas que são diabéticos, já com diagnóstico, e que têm de controlar a doença, preocupamo-nos também com esses 5 mil, que, de certeza, já o são, mas ainda não o sabem.

Onda Livre (OL) – É possível ser-se diabético sem o saber? Não há sintomas?

MP – Sintomas, há. As pessoas podem é não os valorizar. É uma doença silenciosa, que não dói, e as pessoas tendem a preocupar-se com a questão da dor.

Devem estar atentos e alerta a fatores como o excesso de peso, o comer muito, terem muita fome ou sede ou urinar muito. São estes os principais sinais. As pessoas podem te estes sintomas, e não serem diabéticos. No entanto, nada melhor do que fazer rastreios e fazer uma consulta anual, para saber se está tudo bem.

Há outro tipo de sintomatologia, mas estes são fundamentais.

OL – Quem achar que necessita de fazer um rastreio, até por apresentar estes sintomas, onde é que se pode dirigir?

MP – Podem procurar os serviços de saúde, ou então a Associação de Diabéticos do Distrito de Bragança, que dá resposta no rastreio e no aconselhamento.

Ainda sobre a questão dos sinais e sintomas, muitas pessoas acabam por descobrir que são diabéticas quando vão a uma consulta de oftalmologia, porque já não vêem muito bem. E associam isso à idade, e muitas vezes é por causa de uma complicação da diabetes.

OL – A maior parte das pessoas portadores de diabetes são mais idosas, ou ataca também uma grande percentagem de jovens, que já tem, e não sabe?

MP – Quando falo na prevalência dos 13% a nível nacional, é no grupo etário entre os 29 e 79 anos. Sabe-se que é mais frequente nos homens do que nas mulheres, e estima-se que a idade é um fator de risco para o aparecimento da diabetes.

Como fatores de risco temos, então, a idade, o sedentarismo, o Índice de Massa Corporal, ou a obesidade. Pessoas com histórico da doença na família, assim como complicações são propensas. Por exemplo, se alguma vez apareceu uma picada de glicémia capilar, ou em análises, algum valor alterado. A hipertensão também está associada, e isto quer dizer o quê? Que com a idade é um potencial, e temos uma população bastante envelhecida, por isso acredito que haja um número superior a 17 mil de diabéticos no distrito.

Se fizermos a reportagem dos números para o concelho de Macedo de Cavaleiros, e considerarmos que temos 16 mil habitantes, estima-se que haja 2 mil pessoas com diabetes, das quais 1100 estarão diagnosticadas, e 900 ainda não estão.

OL – Mas, é possível viver com esta doença, e ter uma vida normal?

MP – Pode ter-se uma vida normal, devidamente controlada. É preciso estar a par de como lidar com a doença e interior, e saber viver com ela.

Não devemos ter medo dela, não nos fecharmos. Ainda há um tabu em torno da diabetes, por não considerarmos que é algo com que temos de viver e cuidar, isto porque não dói. O que é certo é que, se não controlada, é uma doença que estraga os vasos sanguíneos. Como nos preocupamos com a tensão arterial alta, temos que nos preocupar com a diabetes. Esta doença descontrolada, o que quer dizer que o nível de açúcar no sangue está alto e a torna-lo impuro. Também pode obstruir as nossas veias e as nossas artérias, e depois vêm os enfartes, as doenças cardiovasculares e neurovasculares, nomeadamente o AVC.

OL – Mas a diabete tem outras consequências, como, por exemplo, a cegueira…

MP – Para perceber, basta só pensar que todo o nosso corpo é irrigado por sangue, que circula por vasos e artérias. O que nos dá alimento? É o sangue. É o que alimenta o coração, o cérebro, os rins, os pés… E a diabetes, podes dizer, é um problema de vasos sanguíneos, em termos de complicações. Por isso é que aparece a cegueira, o problema renal, que leva à hemodiálise, e um problema, que cresceu este ano, que é a amputação do pé. No cuidado ao pé também há muito a investir.

OL – Estamos a falar de uma fase da doença mais avançada, mas parece que a palavra de ordem é a prevenção. O desporto, ajuda a prevenir, certamente, e aqui está esta caminhada, mas haverá outras formas de prevenir.

MP – Este ano, a vida saudável e a aquisição de estilos de vida saudável são fundamentais para a prevenção. Aí entra o exercício físico, e a alimentação saudável. Um dos slogans que a OMS (Organização Mundial de Sáude) e a IDF (International Diabetes Federation) lançaram é que a vida saudável começa com a ingestão do pequeno-almoço. E, se pusermos a população a refletir, quantas pessoas saem de casa com o pequeno-almoço tomado?

OL – São poucas?

MP – Acredito que sim, e isto já se vai verificando nas nossas crianças. Muitas vezes, o insucesso escolar está-lhe associado. Muitas crianças vão para a escola sem o pequeno-almoço tomado.

É fundamental criar essa regra do pequeno-almoço. Algumas pessoas dizem não serem capazes, mas há que insistir até conseguir.

OL – Desde o ano passado, o número de sócios da ADDB aumentou?

MP – Este ano contamos com 750 sócios. Penso que sim, que tem vindo a aumentar, pelo menos a procura e a participação nas nossas atividades.

Quero também avançar que temos organizada uma atividade para correr em conjunto. Há muitas pessoas que gostam de correr, mas que não gostam de o fazer sozinhas. Às quartas-feiras vão poder correr, em pista, no Estádio Municipal de Macedo de Cavaleiros. É só aparecer, às 18.30h.

Queremos ter uma cidade mais saudável, e uma população mais saudável.

Escrito por ONDA LIVRE